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Dez poemas de Nicolas Behr na antologia Brasilírica

Nicolas Behr (foto daqui)


“fui o primeiro a chegar
em 1957 disse o candango

eu já tô aqui
há uns 200 anos
falou o sertanejo

sou o índio
ganho de todos

ganha não
eu sou a pedra

para paulo bertran


“os três
poderes
são
um só:

o deles”


“brasília
é isso mesmo
que você está vendo
mesmo que você
não esteja
vendo nada”


“não ficará carimbo
sobre carimbo

e carimbo sobre carimbo
reconstruiremos a cidade

sem carimbos”


“o que mais
te fascina
em brasília?

a cidade ou o poder?

o céu”


“como chegar: não se chega
                         pois não se parte

onde ficar: não se fica (cidade suspensa)

o que ver: não há nada para ver
                  pois brasília
                  (bem imaterial)
                  só existe na teoria

como sair: a cidade não tem saída
                   nem entrada

                   é labirinto”


“por onde vaga
a alma de brasília?

procurando uma vaga
para estacionar a alma”


“este livro é um elogio
a brasília
ou uma crítica
à burocracia?

na dúvida, carimbe aqui”


“brasília
é uma cidade autoritária?
é sim, quer ver?

pra subir pra falar
com o ministro
só de terno e gravata

pra descer
só nu”


“com licença, carlos

POLÍTICA LITERÁRIA

o poeta da asa norte
discute com o poeta
da asa sul
pra ver qual deles é capaz
de bater o poeta
do plano piloto

enquanto isso, um poeta
de uma cidade-satélite qualquer
tira a lama do sapato”




Poemas presentes na antologia Brasilírica (2017), de Nicolas Behr, páginas 52, 31, 37, 22, 40, 28, 43, 23, 48 e 53, respectivamente.

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