Pular para o conteúdo principal

Os melhores versos do poema Umbigo, de Nicolas Behr — Parte 07

Nicolas Behr - Foto: José Rosa

“minha poesia é a arte de se tornar desnecessária”

“minha poesia nada significa para quem tem fome”

“minha poesia é. do verbo esquecer”

“minha poesia bem que poderia ser uma rapadura”

“minha poesia é um barracão de sonhos,
armazém de esperanças, depósito de ilusões”

“minha poesia é aquele momento em que você
sente uma brisa gostosa no rosto e diz ah!”

“minha poesia é uma velha senhora chamada
cora coralina que às vezes me visita
na forma de cheiro de terra molhada”

“minha poesia não é represa nem lago. é canal”

“minha poesia é ácido no lugar do colírio”

“minha poesia em negrito aparece muito mais”

“minha poesia comeu o pão que o diabo amassou
mas antes o poeta o desamassou e passou manteiga”

“minha poesia é o bilhete deixado pelo
marinheiro russo no submarino que explodiu”

“minha poesia segue os pingos de sangue
que vão do banheiro até ao quarto de hóspedes”

“minha poesia é uma doença sem cura que não mata”

“minha poesia pega na vida sem luvas”

“minha poesia. clara como uma página em branco”

“minha poesia tem um defeito grave:
não pode ver um elogio que sai correndo atrás”

“minha poesia já teve de mim o pedaço
que queria. agora ela quer um pedaço seu”

“minha poesia tentou levantar a questão mas como
ela era muito pesada resolveu deixá-la no chão”

“minha poesia sangra – o crítico vem logo
aplicar o torniquete”

“minhapoesiaeminhavidasãoinseparáveis”

“minha poesia, até certo ponto, é vírgula”

“minha poesia morre. o poeta é valorizado”

Nicolas Behr - Foto: Truman Macedo

“minha poesia olhou para os dois lados da questão
mas mesmo assim foi atropelada”

“minha poesia só vai dormir
quando tiver a garantia do sonho”

“minha poesia tem razão.
nada pior que poesia com razão”

“minha poesia é elogio fúnebre, homenagem
póstuma, filho bastardo, reconhecimento tardio”

“minha poesia te abraça forte
mas é só demonstração de força”

“minha poesia quando chegou no fundo do poço
viu o corte no pescoço”

“minha poesia olha o ipê em diamantino e se
emociona tanto que chega a chorar lágrimas roxas”

“minha poesia se inicia aqui, passa por lá
e desemboca mais ali na frente e aí afunda no mar”

“minha poesia é uma boia de aço”

“minha poesia acha que a poesia deve incomodar,
questionar. o poeta não acha nada, é um bocó”

“minha poesia empalhada mas viva”

“minha poesia discute mas não passa pelos dentes”

“minha poesia é uma ilha cercada pela insanidade”

“minha poesia é o fio-terra que salva o poeta
do curto-circuito”

“minha poesia é fácil!
ah, como é difícil a poesia fácil!”

“minha poesia em qualquer outro país do mundo
já teria feito a revolução”

“minha poesia desenterra arqueólogos futuristas”

“minha poesia vai dar a volta por cima,
por baixo, pelos lados e cair nos teus braços”

“minha poesia te ama. o poeta não”

“minha poesia já te cumprimentou na rua hoje?”

“minha poesia não te comove e se desespera”

“minhapoesia@minhapoesia.com.br”




Versos presentes no livro-poema Umbigo (LGE Editora, 2005), de Nicolas Behr, páginas 62 a 71.

Baixe o livro aqui

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Seleta: Gipsy Kings

A “ Seleta: Gipsy Kings ” destaca as 90 músicas que mais gosto do grupo cigano, presentes em 14 álbuns (os prediletos são “ Gipsy Kings ”, “ Este Mundo ”, “ Somos Gitanos ” e “ Love & Liberté ”). Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Os 14 álbuns participantes desta Seleta 01) Un Amor [Gipsy Kings, 1987] 02) Tu Quieres Volver [Gipsy Kings, 1987] 03) Habla Me [Este Mundo, 1991] 04) Como un Silencio [Somos Gitanos, 2001] 05) A Mi Manera (Comme D'Habitude) [Gipsy Kings, 1987] 06) Amor d'Un Dia [Luna de Fuego, 1983] 07) Bem, Bem, Maria [Gipsy Kings, 1987] 08) Baila Me [Este Mundo, 1991] 09) La Dona [Live, 1992] 10) La Quiero [Love & Liberté, 1993] 11) Sin Ella [Este Mundo, 1991] 12) Ciento [Luna de Fuego, 1983] 13) Faena [Gipsy Kings, 1987] 14) Soledad [Roots, 2004] 15) Mi Corazon [Estrellas, 1995] 16) Inspiration [Gipsy Kings, 1987] 17) A Tu Vera [Estrellas, 1995] 18) Djobi Djoba [Gipsy Kings, 1987] 19) Bamboleo [Gipsy Kings, 1987] 20) Volare (Nel

Seleta: Ramones

A “ Seleta: Ramones ” destaca as 154 músicas (algumas dobradas em versões ao vivo) que mais gosto da banda nova-iorquina, presentes em 19 álbuns da sua discografia (os prediletos são “ Ramones ”, “ Loco Live ”, “ Mondo Bizarro ”, “ Road to Ruin ” e “ Rocket to Russia ”). Ouça no Spotify aqui [não tem todas as músicas] Ouça no YouTube aqui Os 19 álbuns participantes desta Seleta 01) The KKK Took My Baby Away [Pleasant Dreams, 1981] 02) Needles and Pins [Road to Ruin, 1978] 03) Poison Heart [Mondo Bizarro, 1992] 04) Pet Sematary [Brain Drain, 1989] 05) Strength to Endure [Mondo Bizarro, 1992] 06) I Wanna be Sedated [Road to Ruin, 1978] 07) It's Gonna Be Alright [Mondo Bizarro, 1992] 08) I Believe in Miracles [Brain Drain, 1989] 09) Out of Time [Acid Eaters, 1993] 10) Questioningly [Road to Ruin, 1978] 11) Blitzkrieg Bop [Ramones, 1976] 12) Rockaway Beach [Rocket to Russia, 1977] 13) Judy is a Punk [Ramones, 1976] 14) Let's Dance [Ramones, 1976] 15) Surfin' Bi

Oito passagens de Conceição Evaristo no livro de contos Olhos d'água

Conceição Evaristo (Foto: Mariana Evaristo) "Tentando se equilibrar sobre a dor e o susto, Salinda contemplou-se no espelho. Sabia que ali encontraria a sua igual, bastava o gesto contemplativo de si mesma. E no lugar da sua face, viu a da outra. Do outro lado, como se verdade fosse, o nítido rosto da amiga surgiu para afirmar a força de um amor entre duas iguais. Mulheres, ambas se pareciam. Altas, negras e com dezenas de dreads a lhes enfeitar a cabeça. Ambas aves fêmeas, ousadas mergulhadoras na própria profundeza. E a cada vez que uma mergulhava na outra, o suave encontro de suas fendas-mulheres engravidava as duas de prazer. E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava. E um leve e fugaz beijo na face, sombra rasurada de uma asa amarela de borboleta, se tornava uma certeza, uma presença incrustada nos poros da pele e da memória." "Tantos foram os amores na vida de Luamanda, que sempre um chamava mais um. Aconteceu também a paixão