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Vinte passagens de Carlos Barbosa no blog Minicontos entre 2010 e 2012



“(...) Século XXI, ano XII. Pós tudo. Tempo de acúmulos, de diversidades, de tolerância, de convivências, de rupturas. Tempo de novas buscas, de alternativas muitas, de espíritos livres. (...) E ainda há quem vem a público dizer de ódio a outras pessoas. Como se a atitude diferente ou indiferente, ao que se pensa e se faz, justifique a pronúncia do ódio. Pois quem assim diz nega a possibilidade de aproximação ou de mudança, pelo menos do outro, pois a si mesmo demonstra a impossibilidade. Odeio, e fim. (...) Dez segundos de reflexão nos indicam a longínqua origem desse tipo de sentimento. Sede de poder, sede de sangue, um certo tipo de sociopatia que ideologias extremistas dão colorido e sabor. (...) O bem primordial do ser humano é a liberdade. Ódio é a não aceitação da liberdade do outro, é a confissão mais clara de que suas ideias não possuem nenhum valor que as sustentem, de que a simples existência do outro implica no seu próprio desmascaramento.”


“Grandioso [O rei branco, de György Dragomán]. Relatos sobre a violência da opressão. De como essa violência se reproduz em todos os níveis sociais. De como cada pessoa se apropria do direito/dever de infligir violência no mais próximo. De como tudo que é digno se torna distante da vida real, prenhe de dedos-duros. De como a miséria se apossa dos dentes e unhas e se faz desespero. De como a vida pode ser tormentosa, patética, absurda. De como a realidade forjada serve apenas ao discurso de quem se refestela nos altos cargos, apertando suas manoplas sobre os mais fracos. De como os imbecis se reúnem para controlar um povo e se regurgitam na própria obtusidade. De como o cotidiano se mostra mais cruel que no Velho Oeste, pois contido em frases obrigatórias, em regulamentos pérfidos, em burocracia histriônica e inoperante. De como ser criança é habitar um estado permanente de carência e dor. De como a humanidade resiste apenas naqueles decaídos, marginalizados pelo ‘estado’, nos ditos traidores da pátria (PORQUE PENSAM DIFERENTE OU PORQUE APENAS DESEJAM UM POUCO DE LIBERDADE E AMOR). De como o amor pode se tornar algo pérfido e afastado. De como se vive num estado totalitário. Um mundo sem calor paterno, sem paz, somente o culto ao Grande Pai. Um mundo de ódio canalizado para destruir tudo que possa ser rotulado de humano. Um mundo gélido, imundo e horroroso. Um mundo sem asas. (...) E ainda há quem queira construir regimes desse tipo. Talvez por isso odeiem os escritores, gente como György Dragomán, capaz de revelar as grandes verdades da vida. Sim, pois a verdade, penso eu, reside somente na literatura. O resto é conversa pra conduzir rebanho ao matadouro.”


“(...) é maior verdade que cabe a cada um de nós cuidar de sua própria vida e que ‘cuidando de viver, não se morre’. Pois, impossível não há, a isso não se pode perder de vista. O Quincas bem o sabia. (...) Um fiapo de manga preso ao dente. (...) ‘não me venha com seus problemas’, como sumo da baianidade contemporânea, aquela do egoísmo hilário. Ou como bem disse Tom Correia, ‘da alegria engarrafada’. (...) Eu, que tenho muitos problemas, não me considero, pois, um baiano assim. Sou sertanejo, no sentido mais afetuoso possível. Pois corre em mim um rio de emoção e compaixão humanas. Considero cuidar de outrem um verdadeiro cuidado de si, a doação como ato de autoajuda, a alegria de servir. Cuidar de viver não é, portanto, ato de egoísmo, mas de fraternidade, pois não se morre jamais no coração de quem amamos e acolhemos.”


“(...) Tudo virou show: do intervalo das transmissões esportivas a uma falação de escritor. Dizem agora que o escritor precisa ser midiático, ou seja, um artista capaz de atuações em palcos e estúdios de tevês, capaz de agradar pessoalmente, de ser simpatiquinho. (...) Cada um faz da sua vida o que bem entender, o que achar melhor pra si, premissas básicas. (...) Gostaria que a literatura que produzo importasse alguma coisa para alguns e para a entidade ‘literatura brasileira’. Gostaria. (...) Mas parece viger a regra que impõe a necessidade de o escritor ‘aparecer’ para que seus livros possam ter mercado. E ter mercado parece, também, passou a ser tudo que importa. Profissionalismo. (...) Não sou um escritor profissional, não quero ser um a lutar por espaço no mercado. Estou em minha literatura, mas não sou a literatura que produzo. Sou dos que preferem viver quieto em sua loca. (...) À literatura vai aquele que a ama. (...) Para escrever bons livros, não me parece necessário ser bom ator. E é só isso que gostaria de fazer: escrever bons livros.”


“(...) o tempo não perdoa, executa sua sentença implacável mesmo aos que se julgam belos e saudáveis. O tempo não concede respeito a ninguém. Ou nos arrasta, ou nos empurra, ou se acopla dilacerante ao nosso pretenso ritmo. E tatua mais que nossas almas com suas lâminas finas. (...) sabemos que o tempo avançará para além de nós, como tem feito desde sempre. Uns ficam para trás, outros reinventam-se, alguns resistem, e há os que se multiplicam. O que quer de nós, o tempo? O que queremos dele?”


Sobre o ódio (06/11/2012),
post contra a barbárie,
leia aqui

“Entre os reféns de um assalto a banco, no interior do estado, estava uma nossa amiga. Ao fim do episódio tormentoso, ela escapou sem maiores danos físicos, mas o sofrimento psicológico durante e depois de um drama desse tipo, sabemos disso, abala qualquer pessoa. Certo mesmo é que ela é forte e tem a poesia na alma; portanto, nasceu imortal. (...) Do que ela me contou, horrorizada, ficaram-me os aplausos do populacho endereçado aos bandidos, que esparramavam moedas na porta do banco, e os gritos de ‘vai morrer!’ aos reféns. (...) Quem catava moedas, avidamente, no calçamento da praça? Quem aplaudia a ação dos bandidos? Quem gritava por sangue, pedindo a morte dos reféns?”


“Fui fiscal de portaria na Fonte Nova. (...) entre uma coisa e outra, a gente ficava de olho na atividade da portaria para evitar que os ingressos voltassem inteiros para a mão dos cambistas, motivo maior da evasão de renda no estádio. (...) Em minha primeira noite de trabalho, disseram pra mim: — Vá ver o jogo, rapaz. — Eu, não! Tô fazendo meu trabalho. — Vá ver o jogo, rapaz. É melhor pra você. — Eu, não!, respondi, já invocado. Mas quem me dizia aquilo tinha o dobro do meu tamanho e da minha largura e da minha idade (eu tinha 17 anos), e uma carantonha assustadora. (...) Meu colega de fiscalização me puxou pelo braço: — Vem cá, bicho! Vamo dar uma voltinha. E me explicou que era melhor eu ir mesmo assistir a partida. Repetiu a explicação até eu murchar. — E você, vai ver também?, quis saber do colega. — Eu, não. Vou dormir na enfermaria. E me deixou lá plantado no deserto de cimento. (...) Aprendi ali que o mundo donde vinha não era real. Que a cidade grande funcionava diverso e que cheirava mal. Não fiquei fiscal da Fonte Nova por muito tempo, não tinha estômago praquilo.”


“Um dia crucial a ser alcançado permanece ameaça, aviso posto em moldura ácida, tatuagem viva na memória, até mesmo, creio, depois de se tornar passado. (...) Um dia crucial assassina o tempo que o antecede, posto que tudo o mais pouco importa; interessa apenas alcançá-lo, inteiro, e dele obter sanidade e um passo mais andejo. (...) Amanhã será um dia assim, para mim: cruzarei o saguão do antigo hospital, seguirei por um corredor de mármores trincados, descerei dezesseis degraus e, num improvável subsolo, talvez chova um tiquinho em meu futuro.”


“Li dois contos de Carver hoje à tarde. Não dá para ler mais que dois contos por vez. Falta chão e a vida fica turva quando se lê Carver. A gente sabe que a vida é turva, mas Carver prova que é. Editado e traduzido, não importa, o que nos chega de Carver parece um jogo de polo equestre: uma bola é tangida por tacos grotescos, num campo imenso, por jogadores que se confundem com as montarias — o espectador sabe que há uma partida em andamento, mas não entende bem qual lado ataca, qual lado defende; mal vê a bola, que mais parece um pequeno animal em desespero tentando fuga — e quando acontece o gol não há estufar de rede nem delírio de multidão, restando ao fundo um tropel que não cessa.”


“(...) O que o amor pode fazer a um homem já maduro, até onde pode levá-lo, quanto dele e de suas ausências pode suportá-lo, o que o faz querer mais desse amor que, quase sempre, é uma rima pobre e desesperançada, e se esse amor brota de uma jovem prostituta, como suportar seu desdém, sua divisão anárquica e comercial, o que o faz querer mais das migalhas desse amor, ou a querer mais de uma mera promessa de amor, por mais que por ele se pague, qual o limite de exaustão do amor, inexiste? O amor nos possui sem se deixar possuir? (...) volto sempre ao romance [Um amor, de Dino Buzzati] (agora que Mônica encontrou meu exemplar perdido nas estantes) para leituras avulsas e emocionadas.”


Cada qual cuide de seu enterro (24/02/2012),
a sensibilidade do sertanejo,
leia aqui

“Delicada guerreira. Seus grandes olhos chovidos. Miúda guerreira. Seus pezinhos vesgos. As horas todas de luta. Todo um exército. Um hospital de campanha também. Cuidadosa guerreira. Recebe os ataques pacientemente. Tampona feridas. Recupera terrenos. Ergue seu mundo. Guerreira frágil. Dona de toda fortaleza do mundo. Avança por entre colunas de fogo e pontas de lança. Não ataca, avança. Guerreira pacífica. Acalanta seus agressores. Ajuda-os a se levantarem, e são muitos. Guerreira honrada. Solitária em sua marcha. Entre montanhas de livros. Torta de dor, insone. Arrasta a sina dos pobres. Lírica guerreira. Sua arma, dignidade. Seu escudo, inteligência. Seu canto de guerra, o mais belo poema. Amada guerreira.”


“‘O navio branco’ tocou meu coração profundamente. Começa por ter um protagonista criança; e um coprotagonista idoso. Neto e avô. Pureza e fragilidade. Dois estágios da condição humana que se situam ao largo da arrogância e prepotência dos adultos competidores. O menino não tem nome, não tem pai nem mãe, dele cuida o avô, Momun o Solícito. E as outras pessoas do ‘cordão’, distrito, são expressão da violência, embriaguez, mesquinharia e egoísmo, coisas típicas de gente grande e sabida. No império do materialismo histórico, Momun repassa ao neto a história do povo ‘bugu’, das montanhas da antiga Quirguízia, por meio da lenda da grande Mãe Cerva-Galhuda. Pessoas assim sofrem muito neste mundo, território privilegiado do poder humano. O menino usa o binóculo do avô para trazer o mundo distante ao toque dos seus dedos. Um mundo inalcançável, na verdade, como o navio branco no mar. E tudo o mais à sua volta se prepara em horror e dor. Um história pungente, de tirar lágrimas do leitor. (...) Publicado em 1967, ‘O navio branco’, de Tchinguiz Aitmátov, foi um sucesso editorial, recebendo críticas negativas da oficialidade soviética. Ali estava a tradição oral do povo quirguiz, algo a se eliminar, como o sonho, a sensibilidade, a humanidade, a liberdade.”


“(...) O miniconto deve brilhar como um jato de luz na escuridão, algo que ilumina, revela, dá pistas, mas que pode momentaneamente cegar, deixando para trás bolhas, risos e lágrimas; uma história, oculta ou não, potente, concentrada, dolorosa, hilária ou gozosa. (...) Ao ler ‘Urgentemente’, lembrei-me de imediato de ‘Sangue quente’, do meu livrinho ‘A segunda sombra’ (...), o episódio máxime no repente de uma curva, de um batida de rua, de um gesto impensado, uma cena de rua dramática e poética. Deparei-me com fartura de momentos assim em ‘Escorpião amarelo’: picadas férteis de boa literatura. Aproveito para devolver a Kátia Borges o que ela escreveu em 2007 em meu desativado blog ‘ContoSempre’, comentando meu miniconto ‘Oásis’: os contos deixam um certo gosto amargo, inquietante, angustiante no leitor. Maravilhoso que seja assim. Leitura que recomendo com entusiasmo.”


“Minha filha fez 30 anos esta semana. (...) Alguém escreveu que as pessoas especiais guardam em suas mentes um mundo de belezas, só delas conhecido. E que podemos alcançá-lo com carinho, compreensão, parceria. São instantes preciosos, lampejos de intensa luz e emoção. (...) Tenho buscado a companhia de minha filha. Tenho procurado conhecer esse seu mundo de belezas. (...) Hoje, baixou um silêncio entre nós, durante a sobremesa. Então, ela se virou, abraçou e beijou várias vezes as faces de Mônica. (...) Eu vi esse precioso instante.”


“Uma edição da revista O Cruzeiro ostenta a data (...) na capa (...) Alguns dos assuntos, compreensíveis: reforma do ensino secundário, nova fórmula do futebol inglês: U-23; outros, nem tanto: fantasmas brincam em São Paulo, Belafonte não canta Calipso. (...) Já a revista Maquis (...) abre manchete para a denúncia: F.N.M. pagou estátua de Juscelino. (...) A Folha da Manhã (...) exibe a seguinte manchete: Aprovado sem modificações pelo Conselho da República o projeto que institui o estado de emergência na França. (...) Na coluna ao lado, a informação de que o Sputinik III foi avistado com radar nos EUA. No meio da primeira página é possível ler o título: Violento conflito no porto entre a polícia e os partidários do general Humberto Calado. (...) Saio do Google. (...) Desisto de saber mais sobre o que aconteceu no dia em que respirei pela primeira vez. Nada encontrarei na internet sobre os ocorridos no meu lugar de nascimento e arredores, o que realmente importaria. Lá era o sertão do São Francisco, o sertão de dentro. A história dos deserdados não produz posteridade. A não ser que um escritor de gênio faça dela matéria de sua arte.”


O rei branco (12/10/2010),
a melhor resenha de livro,
leia aqui

“É verão na Bahia, sorria! (...) Cheguei pouco depois das 13h e peguei a ficha 306. (...) Instalei-me debaixo do toldo, ao final de um corredor apinhado, junto aos parceiros de desdita. (...) Havia lá muitos idosos, alguns bengaleiros, muitos desprovidos de visão, algumas crianças, um e outro obeso, um e outro viciado em falar ao celular. Apenas uma mocinha lia um livro, como eu. (...) Fui atendido próximo das 18h, sol forte lá fora, horário de verão, sorria... 18h! (...) Conversei, ouvi histórias, discussões ao celular, prestei atenção em silêncios sólidos, grandes suores, cansaços, por toda a tarde de verão baiano. Éramos trezentos, éramos trezentos e cinquenta... ‘Não adianta reclamar, aí suspendem o convênio e a gente é que fica na merda’. (...) É verão, sorria, você está na Bahia. (...) Saí de lá com meus colírios preventivos do glaucoma.”


“Quem estava na plateia no dia em que participei do Café Literário, na Bienal 2011, reparou que eu me emocionei quando falei de um episódio de minha infância que inspirou o capítulo da bicicleta no romance ‘Beira de rio, correnteza’. O assunto por si só me é doloroso. Mas dias depois caiu-me a ficha: aquele dia era 29 de outubro, umas 19 horas no horário de verão, umas 18 horas no horário normal — exatos 10 anos antes, ao anoitecer, morria minha mãe.”


“Acabo de desativar minha conta no Facebook. Disse lá que ‘temporariamente’. Mas não sei se voltarei. (...) Isso é fácil de entender. (...) Não consigo dar conta de postar nos blogues de forma consistente. Tem sido ocasional. Às vezes tenho o que dizer, quero dizer, mas o tempo tem sido correnteza redemoinhada pelas bandas de cá. (...) No caso dos blogues, as postagens esporádicas apenas os tornam menos interessantes e, consequentemente, menos visitados. Não afeta imagem ou relações de amizade. (...) No Facebook a coisa é diversa: a malha de amigos e amigos em potencial promove uma demanda cotidiana e constante que precisa ser atendida, sob pena de parecer descaso ou desinteresse do demandado. E não se trata disso, mas de gravetos, ciscos e buracos na estrada da vida. E também por um pouco de resistência minha, verdade seja dita, em aderir a esse veículo.”


“(...) Volto aos inseparáveis LPs. (...) Vital Farias, paraibano de Taperoá, cantou ‘Canção em dois tempos (Era casa, era jardim)’ e ‘Caso você case’, gravação do selo Polyfar, de 1985. (...) Hélio Contreiras, com sua voz mansa, abriu o leque de suas ‘Estampas Eucalol’ (que Xangai tornou conhecida de todos), em gravação do selo Estilingue Invenções, de 1990. (...) Agora, deixo rolar o bolachão da Banda de Pau e Corda, ‘Redenção’, canções que deram sentido a muitas noites de minha adolescência. Lembro do meu amigo Juazez, ao violão, ‘Maria tomando banho / nas águas claras do rio’, passando várias delas na brisa do cais de Ibotirama. O disco é de 1974, da RCA Victor. (...) Clássicos. (...) E eu, que ainda me espanto com o lixo que cobre a superfície contemporânea, mergulho nesse mais profundo da alma nordestina. A beleza cavada na dor. A fartura ofertada pelos que nada possuem em volta de si mesmos, apenas jorram. Cada pingo um pote, como canta o Zé.”


“Preciso contrair urgentemente uma dívida. Uma dívida expressiva. Quem sabe, abrir uma editora em Salvador e aguentar as consequências. Não importa, preciso me endividar. (...) Somente assim meu nome vai estrelar no Serasa e afins, o banco cancelará meu cheque especial e, graça das graças, com o nome sujo na praça, as centrais de telemarketing deletarão o número do meu telefone de suas listas. (...) E terei de volta meus fins de semana, inteiros, para a leitura tranquila de livros, para os filmes em dvd, para o amor sem interrupções trinadas. (...) O inferno são as centrais de telemarketing.”


Carlos Barbosa - Foto: Mário Espinheira

Presentes no blog Minicontos, de Carlos Barbosa, postagens Sobre o ódio (06/11/2012), O rei branco (12/10/2010), Cada qual cuide de seu enterro (24/02/2012), Tema para meditação (08/07/2012), A visita cruel do tempo (06/06/2012), Palavras de ordem (01/03/2012), Minha história da Fonte Nova (28/08/2010), Apenas um dia (19/08/2012), Carver (04/01/2011), Um amor, de Dino Buzzati (14/08/2012), Guerreira (03/04/2011), O navio branco (26/11/2010), Escorpião amarelo, de Kátia Borges (23/08/2012), 30 anos de Maíra (27/03/2011), 17 de maio de 1958 (16/05/2012), Quem não tem colírio usa óculos escuros (22/01/2012), Da orfandade (21/11/2011), Facebook (21/09/2011), Estampas do tempo (28/10/2012), Meu reino por uma bela dívida!! (06/09/2011), respectivamente.

Comentários

Carlos Barbosa disse…
Caramba, do arco da velha esses trechos, dalguns não me lembrava mais, doutros sabia bem onde dormitavam. Valeu, espero que, pelo menos cadentes, iluminem alguma beirada de precipício. Grande abraço, longa vida, (carlos barbosa)

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