Fui estudante da Facom/Ufba da turma 2001.2 e me formei em 2006.2, diplomado em Comunicação/Jornalismo em fevereiro de 2007, mesmo ano em que comecei a atuar profissionalmente como produtor cultural (até então tinha trabalhado como agente de shows e programador de shows em barzinhos). Vivi aquela experiência tão clichê; vários nãos, desprezo e etc., até ser endossado pelo produtor Uzêda (Plataforma de Lançamento), que me deu um trabalho, me qualificou no sistema de lei de incentivo, me incentivou pra inscrever o meu 1º projeto solo num edital nacional, até me lançar no mercado ao dizer: "O prêmio é seu, você deve fazer sozinho". Hoje em dia encontro colegas profissionais que lá atrás mal olharam pra minha cara, e hoje me dão (mais um clichê) "tapinhas nas minhas costas" e nem sabem que eu sei o quão hipócritas são.
Pois bem, quando chegou a minha vez, atendi no Facebook um estudante da Facom, de Produção Cultural, chamado Luciano Marins, que queria fazer uma entrevista pra uma matéria que cursava (disponível acima, clique no expand e leia na íntegra). Correria mil, arrumei uma vaguinha de tempo, e convidei Edmilia Barros, minha sócia, a participar também. Pois bem, acompanhado do seu colega Renato Neto, os "meninos" faconianos realizaram um bom trabalho, e é este segue acima, para apreciação de quem quiser, a 1ª entrevista da empresa Mirdad — Gestão em Cultura. Obrigado, meus caros!
Edmilia Barros e Emmanuel Mirdad
Foto: Luciano Marins
Aproveitei para fazer uma seleção de trechos meus da entrevista. Confere abaixo:
- A pior praga dessa terra é o “de boa”. Não é “de boa”, tem que resolver e fim. Não tem meio termo, dizer que vai fazer amanhã. Isso que não só trava o trabalho na nossa área como nas diversas outras áreas.
- É preciso saber escrever. Não adianta você ter uma ideia fantástica, se não consegue colocar isso no papel ou não é bem escrita. Então para você saber escrever terá que ler muito e estar informado, não tem jeito. Isso vai lhe dar capacidade argumentativa para convencer o mercado de que o seu produto é interessante.
- A maior dificuldade é estrear o portfólio de produtos. Existem dois caminhos mais óbvios de trabalho para o produtor cultural: ser produtor executivo ou ser empresário (montando o próprio negócio, os produtos e batalhar por eles). Por eu ser autor (compositor e escritor), sempre tive um apelo de criar algo próprio e esse viés empreendedor forte. Então, trabalhei como produtor executivo e ganhei experiência com isso, tanto que, por exemplo, trabalhei no Troféu Caymmi e no ano seguinte eu fiz o Prêmio Bahia de Todos os Rocks. Eu peguei a experiência como produtor executivo em produzir um prêmio de música e levei como patrão para o meu próprio prêmio.
- Geralmente, o primeiro interesse pela produção cultural se dá em um nível artístico. É como ter vontade de aprender a tocar violão, a pintar, fazer teatro e o desejo de fazer com que essas coisas aconteçam.
- Quem na verdade deve dar valor (ao produtor cultural) é o próprio profissional, pois é uma profissão que não é regulamentada, é meio solta e a sua família não vai entender nunca o que você faz. Infelizmente ainda tem um longo caminho pela frente até que a profissão seja de fato reconhecida. Estamos ainda na fase embrionária dessa profissão, por isso eu acho que é importante que o primeiro reconhecimento de valor que essa profissão tenha, seja dos próprios profissionais.
- Mesmo que você opte pelo próprio negócio e tenha esse lado empreendedor, é importante que você passe por uma fase como produtor executivo, até para aprender a tratar bem quem você vai contratar para trabalhar. Mas se quiser passar a vida inteira na produção executiva também não tem problema. Eu optei por ser empresário.
- A experiência de estúdio me trouxe uma amplidão maior para poder entender o universo da música. Da mesma maneira em que um jornalista precisa saber de muita coisa para poder escrever (pelo menos deveria), você tem que também entender mais profundamente das artes com que você vai produzir. É interessante que você não fique só nesse campo do acerto com o espaço de show, de captação e divulgação. Ouça mais, tente entender mais um pouco da técnica musical também. Isso é importante na carreira de um produtor.
- Eu me sinto muito feliz e realizado. Esses projetos, exceto o Prêmio Bahia de Todos os Rocks, foram criados e realizados em parceria. Essa foi a primeira marca da minha atuação como profissional, junto com a Putzgrillo e o meu ex-sócio Marcus Ferreira, de estabelecer parcerias para criação de projetos. Eu avalio que esse ponto de parcerias funcionou bastante na construção desse portfólio.
- Em relação à cidade, sim, a FLICA foi revolucionária para Cachoeira. Inclusive, a grande dica que eu dou é essa: pense em um projeto para interferir na cidade, porque é aí que fica a sua marca. No caso da FLICA, vários projetos podem ser feitos a partir dela, que é simples, um encontro com autores do Brasil e do mundo. Só que para esse encontro de autores acontecer a gente precisa qualificar a cidade, o serviço e fazer a qualificação de conteúdo literário para as crianças, os adolescentes, os moradores e os estudantes de Cachoeira. É um projeto que de fato interfere na vida da cidade.
- Eu acredito que essa parceria vai dar muito o que falar porque Edmilia gosta de trabalhar, eu adoro também e esse é um grande diferencial. Eu tenho o maior orgulho do mundo pelo trabalho. Não faço isso pelo dinheiro, pelo status, porque eu acho legal estar no meio de artistas e nem para aparecer na capa da revista ou no outdoor, eu faço isso porque gosto de trabalhar. Então eu acho que me associei à pessoa certa. Essa história de vaidade tem que ser zero, se não você não desenvolve um bom trabalho.
- Edmilia foi minha funcionária em dois projetos. Ela desempenhou um excelente trabalho no Santo Antônio Jazz Festival e mais ainda na FLICA (2012). Ela administrou a pousada, os autores e fez um trabalho brilhante. Foi a melhor produtora do ano passado, sem contar os comentários positivos das pessoas. Ela é uma profissional muito boa simplesmente pelo fato de ser ágil e organizada. Por incrível que pareça, é difícil encontrar pessoas organizadas aqui (risos). Então ela brilha muito por isso, pela agilidade e rapidez na resolução das coisas. Não deixa para depois, não tem preguiça, não tem essa história de “de boa”.
- Edmilia é uma pessoa que resolve rápido e é competente. Percebi que ao invés de me associar com outro empresário da área ou com outras pessoas que estavam disponíveis, eu poderia convidar o melhor profissional que já trabalhou comigo. Edmilia está qualificadíssima para exercer essa nova fase e tenho muito orgulho de ter essa oportunidade porque ela é a melhor profissional que eu poderia investir hoje nessa área e tenho certeza que ela será uma grande empresária.
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