Emmanuel Mirdad retorna à ficção em O grito do mar na noite
O escritor, produtor e coordenador da Flica Emmanuel Mirdad retorna à ficção, mais precisamente aos contos, depois de um breve passeio pela poesia no ano passado, e lança seu novo livro, O grito do mar na noite, na terça-feira, 30 de junho, a partir das 19 horas, na Confraria do França, Rio Vermelho. A obra sai pela editora Via Litterarum, a mesma que realizou a sua estreia em 2010 com Abrupta sede, também de contos.
Dedicado ao mestre do conto Hélio Pólvora, falecido em março passado, O grito do mar na noite apresenta “um agudo painel das relações humanas, sobretudo afetivas, nas quais homens e mulheres expõem suas fraquezas ante a banalidade da vida e do tempo”, segundo o escritor Márcio Matos, que assina a orelha, “no equilíbrio entre o que se mostra e o que fica subentendido”.
Para o escritor Mayrant Gallo, que assina o posfácio, Emmanuel Mirdad realiza em seus dez contos “um feito altamente elogiável: trabalhar com tipos, sem meramente repeti-los, revitalizando-os, inclusive. Acompanhamos, com igual interesse, tanto o infortúnio do homem de terceira idade, do menino doente, do sujeito infeliz em seus relacionamentos amorosos, da mulher assexuada, quanto o dos mulherengos contemporâneos”.
Emmanuel Mirdad - Foto: Léo Monteiro
O grito do mar na noite, com as suas 172 páginas, “é uma nova proposta extraída de um propósito único: retratar o nosso mundo. Cada conto é uma fotografia de um álbum espúrio”, segundo Mayrant, e que “os signos da contemporaneidade sobejam em todo o volume, numa evidência explícita à vida que levamos, em meio a uma multiplicação infindável de ícones da propaganda, internet, dos aparelhos de celulares, tablets, games, canais de tevê por assinatura etc.”.
Já para Márcio Matos, “ciente disso, Emmanuel Mirdad realiza com o livro de contos um rigoroso exercício”, e, relembrando o mestre Cortázar, cuja especificidade do conto é o poder de vencer por nocaute, “Mirdad move-se pelo ringue na certeira intenção de deixar o leitor tonto e, quando este baixa a guarda, aplica-lhe o golpe fatal”.
O conto que abre O grito do mar na noite é Chá de boldo, sobre o abandono de pessoas pela própria família, que, para Márcio, “somos ‘golpeados’ por duas grandes qualidades de Mirdad: a maturidade para tratar de temas espinhosos e a mínima concessão com a linearidade narrativa”. Sol de abril apresenta a bela e triste história de Lourdes, a sanfoneira caolha, em paralelo à canção Assum Preto, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e Assexuada traz o dilema de Monique, a mulher que nunca gozou e não se importa, mas quer vivenciar o amor – sem sexo, é possível?
Emmanuel Mirdad - Foto: Léo Monteiro
Em O banquete, “racismo, imigração ilegal, preconceito social e racial, além de heroísmo efêmero, tão a gosto do jornalismo televisivo, funcionam como uma espécie de painel difuso do nosso mundo cotidiano, tão caótico”, revela Mayrant, que se divertiu com as desventuras amorosas do “autodestrutível Casanova às avessas” Pedro Henrique, no conto Receba, em que o protagonista, “muito embora consciente de seus quase êxitos, e especialmente de seus fracassos, mantém a linha, segue em frente e volta a se aventurar, como o boxeador tonto de Chaplin”.
Márcio Matos destaca o conto Quase onze dias, que classifica como “tour de force”, em que o autor “cita ícones do momento e brinca com a antítese passado-presente, demonstrando que os grandes feitos inserem-se na trivialidade do dia a dia (mesmo a hedionda trivialidade dos crimes passionais)”. Já para Mayrant Gallo, o conto Bonecas, que traz a derrocada ou a libertação de um macho alfa aos desejos homossexuais, “tem na sua essência o propósito de ironia, motor mais constante da alta literatura e palco de autores como o contista Orígenes Lessa (mal lido e mal compreendido) e Nelson Rodrigues, especialmente o mais cáustico, de A vida como ela é”.
Emmanuel Mirdad - Foto: Divulgação
O título da obra é um anagrama para os livros O grito da perdiz (1983), Mar de Azov (1986) e Noites Vivas (1972), de Hélio Pólvora, uma das principais referências literárias de Mirdad, que é fã do estilo primoroso do escritor baiano, morto aos 86 anos em março passado, e selecionou dez trechos da obra do mestre para abrir os contos de O grito do mar na noite, que traz, na capa, a bela fotografia de uma embarcação à noite de Theu Cerqueira.
Baiano de Salvador, de outubro de 1980, formado em Jornalismo pela Facom – UFBA, sócio-diretor da produtora Cali, Emmanuel Mirdad é um dos criadores, donos da marca e coordenadores da Flica, evento em que foi curador de 2012 a 2014. Autor dos livros Nostalgia da lama (Cousa, 2014), de poesia, e Abrupta sede (Via Litterarum, 2010), de contos, é roteirista, compositor e produtor cultural com mais de 15 anos de carreira.
Capa do livro - Foto: Theu Cerqueira / Design: Emmanuel Mirdad
Serviço
Evento: Lançamento do livro “O grito do mar na noite” (Via Litterarum/2015), de Emmanuel Mirdad
Dia: Terça-feira, 30 de junho de 2015
Horário: 19h às 22h
Local: Confraria do França – Travessa Lídio Mesquita, nº 43, Rio Vermelho, Salvador-BA
Info: (71) 9197-4445
Valor do livro: R$ 30,00
Quantidade de páginas: 172
Comentários