O escritor Emmanuel Mirdad promove o lançamento virtual do livro “oroboro baobá”, o seu primeiro romance, no dia 07 de outubro de 2020, às 11h14.
“oroboro baobá” é um livro virtual, editado pelo próprio autor e disponibilizado em posts do seu blog, em fotos da página de escritor no Facebook e download gratuito do PDF da obra. Da sua origem até desembocar numa foz literária, este romance finalista de dois prêmios nacionais em 2017 (Prêmio Sesc de Literatura e Prêmio Cepe Nacional de Literatura) levou mais de oito anos para ser concluído, acumulando vinte versões de si mesmo.
Assim, parte-se da simbologia de uma árvore sagrada engolindo as próprias raízes para conceber um universo peculiar: nada existe em consciência; tudo existe em herança antepassada. O insondável habita personagens impelidos a cumprir suas jornadas sem ter acesso à regência de suas vidas, dedicando-se ao destino que acreditam ter escolhido, porém alheios à ilusão do livre-arbítrio.
Em contínua transposição metafísica entre a costa africana e cidades interioranas da Bahia, uma ancestralidade intocável realiza um feito extraordinário em um simples campeonato de futebol amador. Entretanto, é nesse ambiente de aparente frivolidade que se expõe, em alta voltagem, as entranhas da natureza humana: disputas por território, narrativas e micropoderes que remontam à formação da identidade brasileira e à origem da riqueza das elites que exalam hipocrisia. Além disso, há o vigor feminino em confronto com estruturas arcaicas que insistem em inviabilizá-lo.
Contudo, trata-se de um livro cuja segunda leitura talvez permita a exploração de sutilezas que flertam com a epifania. Para só então compreender-se a óbvia onipresença do sagrado, por mais que tenha permanecido oculto.
Emmanuel Mirdad no local onde escreveu o romance
O protagonista é o movimento
“oroboro baobá” apresenta uma narrativa fragmentada: passado, presente e futuro são narrados no tempo presente, e vários personagens seguem as suas jornadas, sem o conhecimento da conexão que os envolve. Não há um protagonista; o importante é o movimento, as pequenas sagas que acontecem, orientadas pela premissa: “ontem é hoje, amanhã é hoje, tudo o que nos forma é hoje”.
É um romance de realismo fantástico, com a presença da divindade Mutujikaka, a guardiã, e as suas entidades africanas, como a transportadora Mensawaggo, a mensageira Makonga e a dançarina Mokamassoulé, regendo a aplicação do destino, o que está previamente definido, a verdade que os humanos (e elas) não têm acesso.
A seleção de Porto Seguro é favorita para ganhar o campeonato Amadô, graças às defesas sobrenaturais do goleiro negro Montanha, fenômeno que não toma gol, ídolo que não fala, evita relações, não dá entrevista nem permite ser tocado. Ninguém conhece o seu passado intrigante, que talvez seja ligado à jovem Miwa, encontrada no mangue de Mucuri após visões fantásticas com entidades africanas, adotada e criada por três mulheres negras que são descendentes de um mesmo ancestral africano, que foi escravizado e prosperou como um rico senhor fidalgo.
Há o empresário e chefe do tráfico que é o artilheiro do time, que busca a sua redenção através do futebol. Há o jornalista investigativo que se empenha em descobrir os mistérios do goleiro imbatível. Há a educadora Maxakali que tem de se separar da tribo por ameaças de bandidos e precisa descobrir onde está o seu filho, que é adotado e negro como Miwa. Um romance com muitos personagens e muitas locações, como Caraíva, Mucuri, Nanuque, Aldeia Verde e a mágica Avenida dos Baobás, em Madagascar.
Oroboro de baobá
O oroboro é o símbolo da conexão da boca com a cauda, da cabeça com o pé, dos galhos com as raízes, o início com o fim e/ou o fim com o início. É o círculo que se consome, que gira em eterno movimento, em continuidade incessante, a ida e a volta, morte-vida & vida-morte. O tempo como roda e não lança. Tudo ao mesmo tempo agora; futuro e passado, tudo é presente.
Dizem que o símbolo tem origem no Egito Antigo, representado pela cobra que come o próprio rabo. Tradicionalmente, o oroboro é uma serpente, mas há versões como dragão. Sempre um animal. Daí, a inovação do romance: um oroboro vegetal, um oroboro de baobá, em homenagem à Renala (Adansonia grandidieri), endêmica de Madagascar, a “Mãe da Floresta”, segundo os malgaxes, o baobá presente no livro.
A capa e contracapa de “oroboro baobá” é de autoria do artista visual, designer e fotógrafo Max Fonseca (que também fez o flyer deste post). Com toda a sua mestiçagem de conceitos e essência, Max ilustra o símbolo do oroboro de baobá, que lembra a figuração de uma galáxia no universo, o portal da conexão antena e chão, mente e ancestralidade, hibridez, feminino-masculino, toda a simplicidade da complexidade que o romance “oroboro baobá” se propõe a retratar.
Virtual e impresso
“oroboro baobá” vai ser lançado primeiro na internet, um livro virtual editado pelo próprio autor e disponibilizado em posts e download gratuito do PDF no seu blog (elmirdad.blogspot.com), e em imagens na página de escritor no Facebook (@elmirdad), que pode ser lido no celular, tablet, laptop, etc.
Porém, para quem não abre mão de ler em papel, “oroboro baobá” também será lançado em livro impresso, através da editora Penalux, de São Paulo, com a publicação prevista para novembro desse ano ainda, sem lançamento presencial por conta da pandemia.
Baiano de Salvador, de outubro de 1980, formado em Jornalismo pela Facom – UFBA, Emmanuel Mirdad é autor do romance “oroboro baobá” (2020), de “O limbo dos clichês imperdoáveis” (2018), reunindo os 60 contos que escreveu entre 2000 e 2018, e “Quem se habilita a colorir o vazio” (2017), reunindo os 200 poemas que escreveu entre 1996 e 2017. É autor, também, das antologias de poemas “Ontem nada, amanhã silêncio” (2017) e “Yesterday, Nothing; Tomorrow, Silence” (2018), com tradução de Sabrina Gledhill. Todos os livros estão disponíveis para leitura aqui.
Emmanuel Mirdad é um dos criadores, donos da marca e coordenadores gerais da Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira). Foi curador de quatro edições da Flica (de 2012 a 2014, em parceria, e 2016, sozinho). Sócio-diretor da produtora Cali, que realiza a Flica ao lado da produtora Icontent. Produtor cultural com mais de 20 anos de carreira, realizou diversos projetos com patrocínio público-privado, como festivais, shows, premiações e gravações de álbuns, e foi sócio da produtora Putzgrillo Cultura (2008 a 2012).
Compositor, Emmanuel Mirdad possui mais de quarenta músicas gravadas, entre rock e reggae progressivo e psicodélico, blues, groove, pop rock e experimental, em inglês e português, e mais de dez trabalhos lançados, entre EP’s e álbuns. Foi produtor fonográfico, artístico e executivo da banda de rock psicodélico progressivo The Orange Poem (2000 a 2014), e do projeto de psy-prog-reggae Orange Roots (2015 a 2019).
Mantém o blog “O lampião e a peneira do mestiço”.
Comentários
Sucesso e boa sorte.