Luiz Felipe Pondé
Foto: Divulgação | Arte: Mirdad
"Todo mundo tem seu preço, menos os santos, e estes nós matamos e não queremos em nossas famílias porque tornam inviáveis os acordos sombrios que fazem a vida possível. A vida necessita de um certo quantum de corrupção, do contrário, torna-se irrespirável. Não digo isso com felicidade. O fato de a vida ser vã não invalida essa máxima infame. É justamente porque a vida é vã que a infâmia dessa máxima é verdadeira. Pena"
"Sem hipocrisia não há civilização, e isso é a prova de que somos desgraçados: precisamos da falta de caráter como cimento da vida coletiva. Muitas vezes sinto, como que de forma material, a presença da hipocrisia ligando as pessoas do mundo quando se afirmam éticas. Por isso o desfile de falsas virtudes em toda parte: o ser entregue à sua pureza seria obsceno. O véu que esconde a nudez moral horrível é como a hipocrisia que nos torna falsamente belos"
"Quando viajam, sempre o fazem para locais com a marca do raro, do incomum. Têm o dom, e este vale muito no mercado do marketing de comportamento, de fazer parecer que tudo que fazem é raro, especial e diferenciado, quando na realidade vivem cercados pelo mesmo halo de mesmice que todo mundo tem ao seu redor para fazer a vida reconhecível ao acordar pela manhã. Normalmente frequentam os mesmos restaurantes, as mesmas lojas e têm os mesmos pânicos. O grande poder que eles têm é, antes de tudo, fazer seu estilo de vida desejável aos outros para assim se sentirem como alguma forma de elite, coisa que jamais reconheceriam publicamente"
"Os sons do corpo anunciam a dependência da alma para com o corpo, e a vitória final deste. Logo, em minha vida, antes mesmo da filosofia, pressenti o fracasso fisiológico como forma concreta de um ceticismo da matéria com relação aos voos do espírito"
"Ser indivíduo é ser órfão de qualquer referência de tradição como fundamento de seus atos e suas escolhas (...) É ser mais ou menos o que o Nietzsche pensou como 'super-homem', alguém que é o único responsável por seus valores e suas decisões, marchando em sua solidão contra a indiferença cósmica e histórica"
"Não sofremos apenas com o acaso em si, mas com a relação afetiva que temos com ele: temos medo da violência cega que ele implica ao anular todo o valor de nossa agonia em busca de um mundo suficiente"
Trechos extraídos do livro de ensaios "Contra um mundo melhor" (Leya, 2013), de Luiz Felipe Pondé.
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