Abrupta sede começou com 15 contos em 15 de setembro de 2006. De produção literária até então, tinha poemas reunidos no eternamente remodelado Deserto poema (que até hoje não lancei) e um livro conceito chamado Livro Domês, que reunia poemas, telas de colagens, poetrix, contos e sinopses para adaptações cinematográficas. Estimulado pela leitura dos contos do baiano Mayrant Gallo, impus um desafio: “posso escrever assim também”.
De forma espaçada, entre 2006 e 2007, escrevi os contos Maestro, Afrodita e Absoluto (set/2006), O Reino (nov/2006), Pássaros deliram e Despedaço (jan/2007), Sereno aceitar, Apenas um homem e seu medo, Botox, Aromas, desejos e motivos, De tanto inverso e Será alucinaberração? (mai/2007) e Inesgota (jun/2007). Além destes, recuperei o conto Armadilha espetáculo, escrito em 2000 para uma coluna no extinto jornal Folha da Pituba. Por fim, tinha o conto Amém insolúvel, escrito em maio 2007, que foi descartado na versão final. O conto mais demorado de escrever foi Botox, com 18 horas de trabalho, e o mais rápido foi justamente o conto descartado em 2010, Amém insolúvel, com 45 minutos (não entrou na conta o conto escrito em 2000).
No final de junho de 2007, o amigo e artista plástico Marceleza de Castilho (conhecido então como Txhelo) entregou as primeiras ilustrações via e-mail para os contos. Bem próximos na época, ele topou ilustrar na camaradagem. No e-mail, revela que “foram todas pintadas à nankin, dentro do mesmo feeling, apenas uma não saiu no primeiro take, apesar das ideias virem à tona de primeira” e que “espero que as imagens estimulem, pelo menos um pouquinho, a imaginação dos leitores, para que possam saborear ainda mais os contos, que com certeza, devem ser grandes estímulos à imaginação”. Dessa leva, ficaram as imagens de Afrodita, Armadilha espetáculo, Será alucinaberração? e Despedaço.
Ilustração original de Marceleza de Castilho para o conto "Sereno aceitar", que foi descartada.
Inscrevi o original do Abrupta sede no concurso literário da Braskem. Estava muito confiante, e fiquei muito frustrado por não ter sido selecionado. Costumo dizer que perdi para Cafeína, o livro de contos do amigo Victor Mascarenhas, que foi contemplado. Encerrando 2007, deixei um original com o recém-conhecido escritor Aurélio Schommer, que pirou no conto Botox e apadrinhou o projeto de livro.
Em abril de 2008, um novo concurso literário (do Banco Capital) me fez decidir extinguir o conceitual Livro Domês (poemas e poetrix foram pro ajuntado do Deserto poema) e reunir doze dos seus melhores contos num livro chamado Paranoia umbigo. Não quis inscrever o Abrupta sede ainda traumatizado pela reprovação dele no concurso da Braskem. Em cinco dias de trabalho em abril, editei e reescrevi os contos Voltaunador, Fagocigo, Ex-embolhado, Abilolar, Adonias Chumbo – Episódio Zigariz (na época Zigariz), Samuel & Beatriz (na época Ouvida), Sagantaz, Augusto Notários (na época Quadriútero), Afetamim, Portassar e Anuviar (completando o livro, o conto Animextremar), e inscrevi o então chamado Paranoia umbigo no concurso. Ironia que este também não seria selecionado.
Em outubro de 2008, entre os dias 13 e 20, misturado à produção da 1ª edição do Prêmio Bahia de Todos os Rocks e vários outros projetinhos, decidi incorporar os contos do Paranoia umbigo (exceto o conto Animextremar) no Abrupta sede (retirando o conto Amém insolúvel), e revisei todos os contos, mudando a ordem, cortando e reescrevendo passagens. O nome Paranoia umbigo foi remanejado para batizar o futuro segundo CD da banda Pedradura (que acabou e nem lançou o 1º), ficou no ostracismo até ser recuperado em dezembro de 2013 para rebatizar meu 2º livro de contos, então chamado Pinaúna, escrito em 2012 e ainda não publicado.
Entre maio e novembro de 2009, o amigo Marceleza de Castilho refez e criou novas ilustrações, entregando a última, Maestro, no dia 24/11. O padrinho Aurélio Schommer escreveu a orelha e entregou no dia 07/04. Para aquecer um pouco a expectativa do livro, decidi publicar 66 fragmentos no blog, de maio até julho, enquanto quebrava a cabeça: como publicá-lo?
Os amigos Mirdad e Marceleza de Castilho em 1º/06/2010.
Dezembro chegou e decidi dar mais uma longa revisão, a que chamei de “revisão final”. Em dez dias de dezembro e mais três dias em janeiro de 2010, revi um por um, cortando os excessos e reescrevendo vários trechos. A principal modificação foi no conto Fagocigo, que ganhou um encerramento cinematográfico que finalmente me fez gostar dele (hoje é um dos meus prediletos do Abrupta sede principalmente por seu final). Passei para o padrinho Aurélio Schommer, que em parceria com sua mulher Mayara, revisou o livro entre fevereiro e abril.
No dia 28 de março de 2010, o padrinho enviou à editora baiana Via Litterarum, sediada em Itabuna, o seguinte email: “Marcel e Agenor. Estou sem notícias de vocês. Há muito que conversarmos, como sempre. Segue mais um livro para avaliação. Com prefácio meu, este”. Depois das indagações no mesmo dia, Aurélio insistiu: “Marcel. É para avaliação. O autor, para quem estou enviando este, ficou de fazer um último pente fino no texto, já revisado por mim, à cata de tremas e acentos caídos. Ele também ficou de enviar a capa (já pronta para impressão) e as ilustrações em alta definição. Primeiro, porém, acho que é o caso de vocês aprovarem”.
No dia 6 de abril de 2010, via telefone, Aurélio Schommer avisou que a editora aprovou Abrupta sede com louvor. Depois do anúncio recente de duas aprovações em editais (2ª edição do Prêmio Bahia de Todos os Rocks pela Oi e Festival de Reggae no Pelô pela Secult/BA), de ter vivido um belo e inesperado amor em março (voltou para a Inglaterra em abril) e de ter passado por quatro dias de sessão de sexo com uma insaciável ninfomaníaca, meu carrinho da montanha russa tinha tocado o breve topo. Mais feliz, impossível!
Os amigos Mirdad e Aurélio Schommer em 2010.
Depois de receber o arquivo revisado de Mayara Borges, ao som dos primeiros discos da banda The Cranberries, revisei com minúcia e prazer antes de enviar o arquivo final pra editora. Fiz até um post com frases impactantes de alguns contos e publiquei no blog. O amigo Aurélio Schommer usou de sua influência junto à editora, em que publicaria em 2010 o romance Clube da honra, para insistir na publicação do meu Abrupta sede. Foi o primeiro resultado importante de nossa parceria. A outra foi a Flica.
Abrupta sede teve impressa uma tiragem de 100 livros. Foi lançado no Groove Bar em 26 de agosto de 2010, em um inusitado show de lançamento. Presentes, queridos como os irmãos Giuliano Marson e Rodrigo Minêu, o sócio Marcus Ferreira, a ex-namorada Vanessa Caldeira (que acompanhou o processo de feitura do livro entre 2006 e 2008, e estimulou minha carreira literária, além de ter me apresentado Aurélio) e a amiga Brisa Torres. Não vendeu quase nada. Para estimular sua existência, criei um blog com comentários de amigos, escritores ou não, sobre os 25 contos. E assim foi minha estreia literária, carreira que retomarei com gosto e força em 2014.
Comentários