João Filho
Foto: Állex Leilla | Arte: Mirdad
"adivinho o marfim da tua face quando ser é gravidade e os fracassos percorrem o jardim"
"Difícil: és mais sendo parte"
"A depender do olho a nudez é completa,
como um sol que se volta para dentro"
"Qual a justa medida, o desenho mais próximo,
ou ainda o compasso tradutório
que esboce mais do que defina nosso
encontro além da insônia dos relógios?"
"Envelheceu em tal propósito,
a elaborar um falso eterno:
em cada ruga um desespero,
em cada perda um novo inferno"
"Não aprendi, fraqueza minha,
sumir sem medo nem vestígio"
"O áspero poema? Não mais quero.
O inviável abismo? Já descri.
Foi com inabalável esmero
que duramente me persegui
Se tudo é insuficiente, espero"
"Dos acidentes que a modelam
em luz e sal, essas escarpas
são os desenhos que mais pesam,
a vida em queda dos sem mapa.
Ali do alto, que é abrupto,
a cidade é curva contínua,
sinuosidade negativa,
abre-se em praias e ravinas.
(...)
Tudo externado? Não o âmago,
por isso engana quem a vê
cidade-entrega, as cores gritam
em cada esquina o seu não ter"
"sabedor de que só o sangue é vago,
da vida sendo apenas a parcela
e nela não passando de um afago.
Mas é sempre passagem e por ela
este instante integral de luz gritante,
que a amendoeira ao vento sul revela,
este instante e não outro, culminante,
onde, nascidos do primeiro espanto,
estamos pendurados no barbante"
"Na verdade, nada escapa"
Trechos presentes no livro de poemas "A dimensão necessária" (Mondrongo, 2014), de João Filho.
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