Pular para o conteúdo principal

O funeral de LucaSande

Lucas Sande, o DJ Cangaço

Enterramos o corpo de Lucas Sande, o melhor de nós, hoje à tarde, 25 de fevereiro de 2013, no cemitério que tem o nome do que vai nos acompanhar por um bom tempo.

Beatriz veio do Rio Grande do Sul. Marinho veio de Santa Catarina. O irmão, valente, a amparar o pai, desolado pela maior dor de todas. A mãe, grata por tanto amor, a afagar os últimos carinhos no rosto silencioso do seu filho, nosso amigo. E a pedir a presença de Rodrigo, Ivan e Pedro Araujo, os amigos mais irmãos do nosso Sande. Cânticos, orações, Victor Uchôa lendo seu lindo texto de despedida e o hino do Bahia puxado com plenos pulmões. Ele, fiel, vestido com a camisa do Bahia, embalado pela bandeira do Bahia, num sonho de paz eterna, tricolorizado por um colar de Gandhi, flores e os crachás do trabalho, funcionário exemplar que era, responsável, atuante e competente. O chapéu de cangaceiro, cravejado por depoimentos emocionados em caneta azul.

Muitos parentes e amigos vieram de Santo Antônio de Jesus, a cidade natal do menino do interior que encantou a capital, moldando e transmutando a opinião de tantos formadores que foram se despedir em silêncio e lágrimas. Uma multidão, caminhando lentamente, lá pros fundos do jardim, quase na borda limítrofe do muro, em silêncio.

Os prantos foram constantes, a cada momento um amigo desfalecia, aqui e ali, inconformados com a lógica perversa do acaso, que prega a peça escrota de ceifar a matéria do sorriso único de um irmão querido, delegando à memória uma necessidade urgente de ser preservada, vivenciada, relembrada, celebrada. Lembra daquela? E aquela vez? E quando ele falava assim?

A sepultura foi selada e diversas flores ornaram a última morada de um corpo que celebrou como poucos o gozo supremo da vida com oxigênio. O cerimonial encerrou, a Messiânica fez a última cerimônia e ninguém arredou o pé. Ficamos ali, ao lado, próximo, embaixo do sol quente como sempre foi a presença do solar Sande. Kalu, o cantor que o astro mais viu nesta breve vida, entoou "Zanzibar", a música que ele mais gostava, segundo Marinho e Araújo. Coro, palmas e o último groove.

Somos da turma de Sande, da voz do campeão, do povo o clamor, deste que nunca foi vencido em vibração porque sempre foi o melhor de todos, o dono do maior coração, da insuperável positividade de espírito que agora retorna à luz. Obrigado, meu querido astro, tua cerimônia foi digna de uma estrela única, singular e tão humana para muito além dessas palavras roucas, dessa dor tão pontiaguda. Pai nosso, cuida do nosso menino, amém.

Comentários

Mayrant Gallo disse…
Sempre que morre um jovem, a tristeza é maior, e a dor, mais intensa, porque interfere em nossos sentimentos o fato de que ele poderia ter uma vida mais longa, junto a nós. Meus pêsames pra você, Mirdad, para a família e os amigos.

Postagens mais visitadas deste blog

Seleta: Gipsy Kings

A “ Seleta: Gipsy Kings ” destaca as 90 músicas que mais gosto do grupo cigano, presentes em 14 álbuns (os prediletos são “ Gipsy Kings ”, “ Este Mundo ”, “ Somos Gitanos ” e “ Love & Liberté ”). Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Os 14 álbuns participantes desta Seleta 01) Un Amor [Gipsy Kings, 1987] 02) Tu Quieres Volver [Gipsy Kings, 1987] 03) Habla Me [Este Mundo, 1991] 04) Como un Silencio [Somos Gitanos, 2001] 05) A Mi Manera (Comme D'Habitude) [Gipsy Kings, 1987] 06) Amor d'Un Dia [Luna de Fuego, 1983] 07) Bem, Bem, Maria [Gipsy Kings, 1987] 08) Baila Me [Este Mundo, 1991] 09) La Dona [Live, 1992] 10) La Quiero [Love & Liberté, 1993] 11) Sin Ella [Este Mundo, 1991] 12) Ciento [Luna de Fuego, 1983] 13) Faena [Gipsy Kings, 1987] 14) Soledad [Roots, 2004] 15) Mi Corazon [Estrellas, 1995] 16) Inspiration [Gipsy Kings, 1987] 17) A Tu Vera [Estrellas, 1995] 18) Djobi Djoba [Gipsy Kings, 1987] 19) Bamboleo [Gipsy Kings, 1987] 20) Volare (Nel

Seleta: Ramones

A “ Seleta: Ramones ” destaca as 154 músicas (algumas dobradas em versões ao vivo) que mais gosto da banda nova-iorquina, presentes em 19 álbuns da sua discografia (os prediletos são “ Ramones ”, “ Loco Live ”, “ Mondo Bizarro ”, “ Road to Ruin ” e “ Rocket to Russia ”). Ouça no Spotify aqui [não tem todas as músicas] Ouça no YouTube aqui Os 19 álbuns participantes desta Seleta 01) The KKK Took My Baby Away [Pleasant Dreams, 1981] 02) Needles and Pins [Road to Ruin, 1978] 03) Poison Heart [Mondo Bizarro, 1992] 04) Pet Sematary [Brain Drain, 1989] 05) Strength to Endure [Mondo Bizarro, 1992] 06) I Wanna be Sedated [Road to Ruin, 1978] 07) It's Gonna Be Alright [Mondo Bizarro, 1992] 08) I Believe in Miracles [Brain Drain, 1989] 09) Out of Time [Acid Eaters, 1993] 10) Questioningly [Road to Ruin, 1978] 11) Blitzkrieg Bop [Ramones, 1976] 12) Rockaway Beach [Rocket to Russia, 1977] 13) Judy is a Punk [Ramones, 1976] 14) Let's Dance [Ramones, 1976] 15) Surfin' Bi

Oito passagens de Conceição Evaristo no livro de contos Olhos d'água

Conceição Evaristo (Foto: Mariana Evaristo) "Tentando se equilibrar sobre a dor e o susto, Salinda contemplou-se no espelho. Sabia que ali encontraria a sua igual, bastava o gesto contemplativo de si mesma. E no lugar da sua face, viu a da outra. Do outro lado, como se verdade fosse, o nítido rosto da amiga surgiu para afirmar a força de um amor entre duas iguais. Mulheres, ambas se pareciam. Altas, negras e com dezenas de dreads a lhes enfeitar a cabeça. Ambas aves fêmeas, ousadas mergulhadoras na própria profundeza. E a cada vez que uma mergulhava na outra, o suave encontro de suas fendas-mulheres engravidava as duas de prazer. E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava. E um leve e fugaz beijo na face, sombra rasurada de uma asa amarela de borboleta, se tornava uma certeza, uma presença incrustada nos poros da pele e da memória." "Tantos foram os amores na vida de Luamanda, que sempre um chamava mais um. Aconteceu também a paixão