Nelson Gonçalves
Foto: Divulgação | Arte: Mirdad
"O entendido só não se torna abominável porque o ridículo o salva"
"Um analista não se espanta. Se lhe cair uma bomba atômica na cabeça, dirá, com a maior naturalidade e sem ponto de exclamação: '– Morri.'"
"Não há idiota que, aqui ou em qualquer idioma, não explique com a sociedade de consumo todos os mistérios do céu e da terra"
"Um gênio não move uma palha, não ameaça, nem influi. Ninguém morre por um gênio, ninguém mata por um gênio (...) Um gênio não convence ninguém, o idiota sim. Ponham um pateta na esquina e deem o caixote ao pateta. Ele trepa no caixote e fala. Imediatamente, outros idiotas vão brotar do asfalto, dos ralos e dos botecos (...) o idiota é uma 'força da natureza'. Ele chove, relampeja, venta e troveja"
"Suporta-se com muito desprazer a glória alheia e, sobretudo, a glória de quem tem metade da vida pela frente"
"Todas as dimensões do brasileiro estão na mais pomposa finalíssima ou na mais franciscana pelada"
"Os estilistas, se é que ainda existem, estão condenados a falar sozinhos. Por outro lado, os escritores, em sua maioria absoluta, estão degradando a inteligência (...) Qualquer um sabe que romance, poesia, teatro, cinema, pintura, etc., etc. vivem da obra-prima. São as obras-primas que carregam, nas costas, todas as mediocridades, todas as falsificações, todas as ignomínias artísticas"
"Se são escritores e não fazem literatura, que fazem? Certo crítico aconselhava aos subliteratos: – 'Não façam literatura, façam família.' E, se os subliteratos já tinham família, retrucava: – 'Façam outra.' (...) Houve o tempo das passeatas. Uma maneira fácil de ser intelectual sem ler uma linha, sem escrever uma linha: – era marchar nas passeatas (...) E o romancista se sentia compensado de sua esterilidade romanesca. E o poeta voltava para casa certo de que era um Dante (...) Passou, em todos os idiomas, a época do grande romance, da grande peça, da grande poesia. Hoje, quando se quer definir o reles, o idiota, o alienado, diz-se: – 'Isso é literatura!'"
"Todas as palavras são rigorosamente lindas. Nós que as corrompemos"
"Falta-nos a nobilíssima coragem para confessar, de fronte alta, olho rútilo: – 'Eu não leio nada. Só me interessa manchete de jornal' (...) O justo, o correto, o exemplar é que assumíssemos a nossa ignorância e a confessássemos, lisamente"
Trechos presentes no livro de crônicas "O reacionário – Memórias e confissões" (Agir, 2008), de Nelson Rodrigues.
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