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Vinte e cinco passagens de Mayrant Gallo no blog NÃO LEIA! em 2009



“Nestes tempos de tanta rivalidade — e de pessoas que não consideram os meios nem medem os esforços para estar em evidência —, me ocorre que o fracasso é o melhor dos lugares: ninguém em volta, silêncio, retenção, paz absoluta e só nós mesmos com as nossas dúvidas...”


“(...) Profundidade é a parte que o leitor comum não compreende e o leitor arrogante julga que decifrou. Duas ilusões. Nascidas, a primeira, de um superestimado pesadelo, e a segunda, de um sonho de grandeza. Do ponto de vista do criador, é exatamente a consciência de que é preciso buscar uma profundidade que a anula e nos faz rasos, quando não ridículos, piegas.”


          “(...) A leitura, e ainda mais a leitura de literatura, não faz parte do cotidiano das pessoas comuns. Ler literatura para quê? É o que muitos perguntam. Ora, ler para sair do embotamento, para ampliar nossos horizontes, para nos tornarmos melhores, nos refinarmos, para uma experiência (estética e empírica) que é aplicada diretamente à vida. Não precisamos de mais escritores; precisamos de mais leitores, e sobretudo leitores de literatura. A literatura oferece um conhecimento vasto e profundo, que amplia e multiplica o sujeito, e que nenhum outro livro é capaz de proporcionar. Uma civilização que se educa lendo literatura tem mais a dizer e diz melhor o que quer que seja.
          (...)
          O leitor contemporâneo não deve esperar que se escreva para ele, não em literatura. Deve aproveitar o que está sendo produzido e publicado, como sempre aconteceu em todas as épocas. Literatura não é cartilha ou um manual de sobrevivência. Literatura é experiência pessoal convertida em experiência humana, geral. Os contos de Antônio Carlos Viana ou os poemas de Ruy Espinheira Filho ‘falam de mim e para mim’ exatamente porque estão centrados em dilemas da condição humana, mexem em nossa medula, tocam na essência primordial do gênero humano, na massa de sentimentos comum a todos nós.
          (...)
          Obviamente estamos lendo mais, as pesquisas mostram isso, talvez até mesmo por causa do crescimento econômico e do aumento do poder de compra... Só não estamos ‘lendo mais literatura’. E essa é uma leitura importante, transformadora, desvinculada do poder (qualquer que seja ele) e que nos apresenta a ‘verdadeira face do mundo’. Todos os livros de autoajuda ou História não valem este ensinamento de Drummond: ‘Tudo é possível, só eu impossível’. Este verso pode se converter no ponto de partida de uma nova vida ou de uma percepção mais acurada da existência e de nós mesmos.
          (...)
          8 - O que você quis mostrar ao escrever Moinhos?
          Que a vida é cruel e injusta, mas não inteiramente.
          (...)
          Ainda acho que a Literatura caminha, pelo menos no Brasil, para ser uma arte exótica, de iniciados. Como dizia Leminski: de produtores para produtores.”


“(...) a leitura de literatura cumpre algumas funções ou objetivos, que são:

1. Faz do próprio ato de leitura uma ação que proporciona, a um só tempo, prazer e proveito, satisfação pessoal e conhecimento do mundo.

2. Desenvolve o senso crítico, a capacidade de refletirmos sobre as muitas realidades que formam a Realidade, pois literatura é ponto de vista, individualidade, deslocamento.

3. Estimula a interação do homem com o seu meio, transformando-se e transformando-o. A literatura transforma o homem, e este, a realidade.

4. Propicia ao sujeito perceber que as palavras não se combinam apenas funcionalmente, para ‘dizer bem’, com exatidão. Que elas se combinam também para o mistério, o sabor, o delírio, o inesperado, o estranho. E é por isso que se diz que a literatura ‘desvela’ o mundo, mostra-nos sua verdadeira face.

5. Desperta no leitor a compreensão de que ao ler um poema, um conto, um romance, uma peça teatral ele está lendo sobre si mesmo e a si mesmo.”


“(...) Num mundo de padronizações e repetições, onde todos os países e todas as culturas se inspiram num único modelo, todos os lugares são o mesmo lugar.”


A vida exígua de Macabéa
(11/02/2009)
leia aqui

“Ontem, no recital de Georgio Rios, Paulo André e Thiago Lins (...) o trio de Feira de Santana faz uma poesia que em outros países, como EUA, França e Argentina, seria aceita como uma arte literária de primeira qualidade, baseada na memória, nos sentimentos pessoais, nas impressões oculares e fortemente influenciada pela linguagem e pelos temas de outros campos do conhecimento humano, como a Filosofia e a Psicanálise. Mas estamos no Nordeste e na Bahia. Aqui, infelizmente, o ‘típico’ e o ‘local’ são qualidades que jamais se exaurem e prosseguem a combater e alijar diferenças estéticas e escolhas individuais. Sem mencionar o fato de que a métrica e a rima consoante (amor\dor) ainda são, para muitos poetas daqui, critérios de valor e o único recurso poético evidente, em detrimento do ritmo, das aliterações, das assonâncias, dos incidentes sonoros, dos vazios e não-ditos, da polissemia. (...) Poesia humana e sem Deus, embora, como dizia Barthes, sempre uma guloseima sagrada. Um dizer que se diz para não dizer outra coisa. E que é único, sem repetições, nem permanência. Aprecie aquele leitor ou leitora que, sensível, se permita viver outros ‘eus’, outros delírios, outras sonoridades, pois o Universo é ritmo (e a vida humana, uma constante descoberta de si mesma). Sem ritmo, não há poesia, não há vida, sonhos, nada. E o que nos restará, ao fim, é o que as palavras encenam.”


“Antes eu escrevia por necessidade de expressão e, de certa forma, para organizar o mundo à minha volta, compreendê-lo. (...) Hoje, escrevo por diversão, gozo pessoal e, talvez, vaidade. Como só escrevo o que quero, sem pressão alguma de ninguém, não vou adiante se o texto não me fornece prazer, ainda que seja uma simples crônica ou mesmo um ensaio. Quanto à poesia, é outra história: ainda escrevo poesia (e acho que sempre escreverei) impelido por uma inquietação, um abalo, algo que está temporariamente dentro de mim e teima em sair, e só o faz mediante palavras, textura sonora, metáforas, ironia. Não é por acaso que se diz que só a poesia confere sentido ao homem e à vida. Ao projetarmos um novo eu a cada poema (o eu do poema não é o do poeta, fique claro isso), nos ampliamos como homens e, assim, nos justificamos perante nós mesmos, embora para nada, já que vamos morrer. Em suma, também escrevo, talvez inconscientemente, para amenizar o fato de que estou no mundo só de passagem. Neste caso, cada texto seria potencialmente uma pegada, um vestígio de nós entregue, por algum tempo, à indiferença do mundo.”


“Qualquer decepção de leitura tem uma história e quase sempre esta não pode ser remontada. Contrate o melhor detetive, que ele ainda assim não será capaz de dizer, ao fim, por que motivo você não gostou de Dom Casmurro ou odiou Fogo morto. A mesma regra se aplica a um filme ou à recepção de um quadro ou de uma música. Algo que nos aconteceu ou aquilo que jamais nos aconteceu talvez explicassem aquele vazio, ao virarmos a última página de um romance ou ouvirmos os primeiros acordes de uma canção. Mas como encontrá-los? Não somos capazes de ir tão longe dentro de nós mesmos... Infelizmente. Ou felizmente, talvez. (...) A nossa impressão (boa ou má) de uma obra de arte — pictórica, verbal ou qualquer outra — pode ser debitária de um único dia de nossas vidas: um dia vivido ou sonhado e sem o qual eu não teria alcançado o fulgor deste momento em que leio um poema ou aprecio um Matisse. E cada dia é como a seção de uma ponte sem a qual não se pode chegar à seção seguinte. Portanto, a nossa vida lê a arte, que, por sua vez, lê a nossa vida e nos oferece a sensação ou de perda ou de acréscimo. O filme que eu admiro guarda um pedaço de mim sem que nem eu mesmo o saiba.”


“(...) Compreender é o que importa. É o ato imprescindível. A postura elevada; restrita, porém, a uma pequena fração da humanidade. (...) Demanda muito menos tempo e esforço ser sarcástico ou irônico ou desdenhoso, como o sujeito anônimo que me escreveu me chamando de cavalo (uma ofensa ao animal), porque usei a seguinte construção num dos meus minicontos da dupla Nicolau & Ricardo: ‘E não há nada neste mundo, naquele momento, que seja mais preciso, mais exato, que a imaginação daqueles dois’ (...) Acredita ele que os adjetivos ‘preciso’ e ‘exato’ têm o mesmo significado, são sinônimos. Ora, são e não são. Da forma como estão associados, são ao mesmo tempo uma reiteração e um acréscimo. Infelizmente, nem todo mundo ‘sabe ler’. E não é por culpa pessoal. Muitos são os fatores, em nosso tempo, que desfavorecem a leitura (ou a leitura correta, que reúne senso crítico, sensibilidade, referências, conhecimento), e o pior de todos talvez seja nos convencer de que aquele que escreve não sabe escrever.”


“Pessoas se encontram por acaso e seguem a se encontrar por afeição. Até que lhes reste somente a memória ou a fria palma da mão.”


Entrevista
(12/12/2009)
leia aqui

“Personagem de A hora da estrela, de Clarice Lispector (1925-1977), romance publicado em 1977, Macabéa é uma jovem nordestina com um sentimento de perdição no rosto. De corpo escasso, opaco, virgem, inócuo e sem enfeites, anda leve para não ser esvoaçada. (...) Tola, solitária e teleguiada por si mesma, ri para as pessoas nas ruas, sem obter qualquer resposta. Mas não se importa, não passa mesmo de café frio, por que olhariam para ela? Não passa de capim, sem floração. (...) Jamais se viu nua, de vergonha de si mesma, por ser feia ou sem importância. Habita um limbo pessoal, todo seu, sem pior nem melhor, apenas respirando: um viver exíguo. (...) Vê a existência como uma coisa que é assim porque é assim: sua melhor resposta. Só quer viver, sem motivo nem indagação. (...) Alimenta o fantasma suave e terrificante de uma infância sem bola nem boneca, e uma saudade do que poderia ter sido e não foi. Só se tornará brilhante, uma estrela, na hora da morte: seu único momento de glória. (...) O cúmulo de sua condição ocorre quando antes de dormir sente fome. Pensa então numa coxa de vaca, mas o que come de fato é papel picado, bem mastigadinho. (...) Assim é Macabéa. A criação máxima de Clarice Lispector, que, como nenhum outro autor até então, pintou sem piedade (mas com ternura) o ser nordestino de condição irremediavelmente nordestina que chega aos grandes centros urbanos do Sudeste para ganhar a vida e não consegue senão perdê-la, pouco a pouco ou de um sopro, brilhando por um instante no derradeiro momento da morte.”


“(...) E eu, um pouco mais tarde, numa livraria, era chamado por um desconhecido (durante a conversa particular que eu travava com um amigo sobre o desempenho dos times no Campeonato Nacional), de racista, sim, racista, simplesmente porque torço para o Fluminense Football Club, do RJ, cujos jogadores, negros, nos primórdios do futebol, tingiam a pele com pó-de-arroz para ficarem brancos e fugirem aos insultos da torcida. Por isso eu sou racista. Só por isso. Eu, que nasci em 1962, no auge da Era Pelé. Mas foi o que ele disse: ‘Todos os tricolores são racistas! Todos!’ (...) Ao fim, voltando para casa, me perguntei o que aquele sujeito estava fazendo numa livraria. Ora, os livros podem oferecer muitas coisas (informação, conhecimento) e promover outras (destreza de pensamento, desenvoltura da fala e uma certa melhora no nível do raciocínio), menos capacidade de compreensão, inteligência e sensibilidade. E é só por isso que não culpo pela alcunha que me deram, que creio imerecida, a péssima Educação Formal oferecida ao povo deste Estado, nem o fato de que lemos tanto quanto visitamos as estrelas. Os livros, e consequentemente a Educação, só podem até o limite do homem. E os limites, como os indivíduos, são muitos e vários.”


“(...) Examinando superficialmente os dois episódios, me dou conta de que ambos representam modelos de professor. O primeiro é aquele que, do alto do seu conhecimento, desdenha o que não conhece; e o segundo, aquele que, mesmo ciente de que sabe, compreende que pode saber ainda mais, e que o conhecimento nos chega pelas mais estranhas vias: pela ação inconsciente de um neófito, por exemplo. Os dois, no entanto, despertaram em mim a fúria pelo saber, e a eles sou grato, pois, a um só tempo, me tiraram do embotamento e me fizeram ver que não somos senão o receio do outro ou o seu fantasma.”


“Leitores às vezes julgam na escuridão; críticos, na penumbra. Quais as intenções de um livro? Quais as intenções do autor? E do texto? Das frases (sempre um mistério)? Das palavras (nascidas, não raro, de incidentes da própria criação)? E quais são as influências das circunstâncias, do contexto, da contingência histórica? Meio, família, visão de mundo, grau de instrução, realizações pessoais, fracassos, medos e eventuais pressões de natureza socioeconômica interferem ou não em quem escreve?”


“Nem sempre conseguimos, racionalmente, afirmar de onde veio um personagem, como ele nasceu, criou vida, carne, um fundo psicológico, sentimentos, emoções. E ainda mais um personagem forte, vivo, profundo, que qualquer leitor, porque fascinado — esquecido de que em literatura nada é real, tudo é ficção, mesmo a História —, jura que existiu e que até o tocou, apertou sua mão, um dia, em tal situação, tal lugar — episódio para o qual é capaz de encontrar testemunhas as mais fiéis, dispostas a rogar de joelhos que o fato é verdade. Às vezes, para o grande escritor é melhor lançar mão da metáfora e encerrar o assunto.”


Poesia dessacralizada
(24/04/2009)
leia aqui

“(...) A estrutura do filme quase nos obriga a esquecer a Guerra: não há invasões, escaramuças, bombardeios, retaliações, nada. Apenas o cotidiano terrível e cruel, em meio a soviéticos-comunistas e alemães-nazistas, que são, sem qualquer exagero, espelho e imagem uns dos outros, a ponto de se atribuir a estes um massacre cometido por aqueles, fazendo das duas nações uma só, de cujo brasão escorre sangue alheio, polonês. A sequência final de Katyn, uma das páginas mais hediondas da história humana, é sem dúvida uma das mais tristes e infames que o cinema já perpetrou. E que Wajda filmou com a frieza e o silêncio de uma lâmina. Um filme que justifica a afirmação de Camus, de que o século XX foi um século úmido. Todavia, ainda há, como sempre houve, pessoas suficientemente ingênuas para perguntar se choveu muito...”


“Personagem secundário de Morte e vida Severina, auto de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), publicado em 1956. Severino é apenas uma espécie de corpo condutor da narrativa (...) Ele também renasce. Aquele espaço é seu novo mundo e só lhe resta viver, fazer dele o que seus braços comportam. A provação que sofreu não foi capaz de vencê-lo. Ele a suportou como pôde e, mesmo quando pareceu desistir — ele não sabia —, apenas chegava ao paroxismo da tentação que lhe foi imposta, e da qual, fortalecido, renasceu para a vida. Foi como se Deus o guiasse, em desafio, da escuridão máxima à luz extrema. (...) Como Sísifo, ele sofreu o peso da ascensão ao cume sufocante e depois revigorou-se num alívio quase impessoal, ao tomar consciência de sua condição de ente que caminha para a morte, e ao adquirir a compreensão necessária de que, mesmo assim, é bom estar na vida, é preciso lutar por ela e tentar ser feliz, quaisquer que sejam as circunstâncias. Nenhuma vida, por mais vil que seja, deverá ser descartada. Sua provação não era senão um aprendizado in vivo, que lhe permitiu salvaguardar o bem mais precioso que pode existir: a vida.”


“O filme argentino Ninho vazio, de Daniel Burman, é metalinguístico. Também é uma aula de criação literária, mais precisamente de narrativa. (...) Passa-se quase todo entre duas sequências menores, que o enquadram. É, assim, uma narrativa dentro de outra narrativa, uma ficção fechada no espaço de outra ficção: aquilo que em Teoria da Literatura chamamos de relato enquadrado. E a narrativa que constitui verdadeiramente o filme, o Ninho vazio, é a trama que o dramaturgo imagina enquanto espera que sua filha volte da noitada de sábado com o namorado. (...) Nesse ínterim, ele cria o argumento de uma história que pretende escrever, e é esta história, ainda em estado mental, que se constrói diante de nós — no decorrer do filme —, tendo o próprio escritor como protagonista, e girando sempre em torno de sua biografia, alterada, porém, pela habilidade que ele próprio, como autor, tem de distanciar o que está perto e aproximar o que está longe. (...) ao fim da sessão, comentei com um amigo que Ninho vazio era um filme atraente, despretensioso, preciso e sofisticado. Como quase tudo o que a Argentina tem produzido ultimamente, tanto em cinema quanto em literatura.”


“Particularmente, não sou do tipo que espera encontrar fidelidade num filme extraído de um texto literário. São linguagens distintas, que demandam escolhas ora funcionais ora artísticas, sem contar as dificuldades que há em transpor para a ‘imagem visível’ uma cena que no romance ou no conto é apenas sugerida pela força ou pelo sentido das palavras. (...) Com as histórias em quadrinhos não é diferente. Spacca teve que eleger sequências importantes e abdicar de outras. Deixou de lado uma das passagens mais bonitas do romance de Jorge Amado — o capítulo ‘Vagão’, que pode ser lido como um conto — em favor de uma narrativa mais fluida e acelerada (...) O ambiente sombrio e opressivo do interior do vagão contamina os personagens e os impõe a refletir sobre suas vidas e sobre a existência de um modo geral, num tom quase de adágio, que contrasta com o resto do romance, mais febril e colorido. (...) O próprio Spacca admitiu o ritmo lento e destoante deste trecho, optando por sua supressão. Ou seja, o que no romance Jubiabá é natural — afinal de contas estamos diante de um gênero que se notabilizou mais pelo seu caráter informe que propriamente pela exatidão, e que se permite qualquer arrojo formal —, no gibi torna-se um excesso, uma matéria sem grande utilidade e que, para o bem da trama, precisa ser polida. Isso é uma evidência de que as histórias em quadrinhos estão mais próximas do cinema que da literatura e que adaptar um romance para os quadrinhos se assemelha muito a transportá-lo para a luminosidade embriagante da tela.”


“(...) Nascido na Polônia em 1857, com o nome Józef Teodor Konrad Naleck Korzaeniowski, Conrad acabou por se tornar um dos maiores prosadores de língua inglesa e um autor cultuado sobretudo pelos escritores. Tinha uma predileção por personagens solitários e amargurados, anti-heróis que, como ele, Conrad, tinham que lutar por seu lugar no mundo. Com seu estilo descritivo e inigualável, dado a incursões psicológicas e nuances de primitivismo, articulou romances ora densos ora movimentados que influenciaram inúmeros romancistas do século XX, na Inglaterra e no mundo, entre os quais Faulkner, O'Hara e Lowry.”


Por que ler literatura
(03/02/2009)
leia aqui

“(...) Na arte, como na vida, só há desprezo no silêncio, na indiferença. Quer ser contra? Não escreva.”


“Ontem, um amigo escritor confessou que uma de suas maiores frustrações foi não ter se tornado desenhista ou pintor. Disse isso naturalmente, sem mágoa, enquanto assistíamos à adaptação de O velho e o mar para um belíssimo curta-metragem de animação. Também tenho lá minhas frustrações dessa natureza, e não somente em relação ao desenho e à pintura. Estimo em demasia os músicos, sobretudo aqueles que dominam seu instrumento ao ponto de parecerem uma extensão do mesmo: a violonista espanhola Anabel Montesinos, Astor Piazzolla, Nelson Freire, o sideral Earl Hines... Certa vez li que Hemingway preferia ter se tornado músico de jazz, desejo partilhado por Orson Welles. E há escritores que confessaram grande decepção por não ter seguido a carreira de jogador de futebol ou a de ator.”


“Bombeiros ― como água, polícia, saúde, esgoto, energia elétrica e educação formal ― é algo básico, que não pode faltar, nem muito menos ser oferecido a duras penas ou pela metade. Se assim for, é melhor que não exista, se não quisermos cair no vexame ou incorrer no papelão. Mas lembro bem que anos atrás minha esposa precisou fazer um exame específico nas duas mãos, e o Planserv autorizou apenas para uma, como se ela fosse maneta... Pelo visto, tal procedimento tornou-se uma prática comum, e o que tivemos nesta madrugada é o mais evidente exemplo disso: meio-tanque de água, meio-carro de bombeiros, meio-equipamento, meia-noite de sono... Só os bombeiros eram realmente inteiros! Lógica de manetas.”


“(...) Jamais vi tanta gente andando na rua como se estivesse numa passarela da moda, num desfile. O corpo em viva afetação. Os gestos e passos quase milimetricamente medidos. O olhar distante e vazio, a refletir descaso e indiferença. As roupas nem são assim tão chamativas, mas, inseridas num gosto exótico de momento, destacam o usuário ou revelam muito do seu caráter de papel. (...) Ontem mesmo, pela manhã, nos mais ou menos 500m que perfaço de casa até o trabalho, avistei quatro ou cinco pessoas (e não somente mulheres, como alguns leitores poderiam supor) que se colocavam na realidade assim: cientes de que, bem ou mal, se exibiam para uma plateia. A cada olhar que surpreendiam e deixavam para trás, ofereciam seu ar de autodefesa e imolação, como se dissessem: ‘Gostou de mim, me admirou? Pois bem, agora me esqueça!’ Já não caminhamos: desfilamos. Já não vivemos: representamos.”


“O cara é escritor, mas não gosta de escrever. (...) Tem saudade de países nos quais jamais esteve, como Itália, França, Austrália e Hungria (...) Gosta de ler livros sobre naufrágios, acidentes aéreos e crimes reais: deve ter morrido em algum (...) É distraído, às vezes bastante distraído, a ponto de enxugar o rosto com o tapete do banheiro achando que era a toalha de rosto.”


Mayrant Gallo (foto: Lima Trindade)

Presentes no blog NÃO LEIA!, de Mayrant Gallo, postagens Retiro (22/01/2009), Ah! (24/01/2009), Entrevista (12/12/2009), Por que ler literatura (03/02/2009), Vá e veja, 4 (14/09/2009), Poesia dessacralizada (24/04/2009), Por que escrevo (01/02/2009), A ponte (05/01/2009), Saber ler (25/01/2009), O longo abraço (30/01/2009), A vida exígua de Macabéa (11/02/2009), Um dia para lembrar (09/09/2009), Receio do outro (17/06/2009), Viver, escrever (02/04/2009), Personagens (28/06/2009), Vá e veja, 2 (17/05/2009), Severino, narrador da morte e da vida (14/02/2009), Ninho vazio (23/02/2009), O gibi Jubiabá (27/08/2009), A outra “Amy Foster” (29/08/2009), Estilizações (02/02/2009), Outro destino (07/02/2009), Lógica de manetas (16/12/2009), Bisnetos de Clarete (18/02/2009) e Seis gavetas e nove fugas (27/01/2009), respectivamente.

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