Pepetela
Foto: Divulgação | Arte: Mirdad
"É isso o amor. Manter a ternura pelo mesmo homem, embora se deseje outros a momentos diferentes"
"O amor é uma dialética cerrada de aproximação-repúdio, de ternura e imposição. Senão cai-se na rotina, na mornez das relações e, portanto, na mediocridade. Detesto a mediocridade! Não há nada pior no homem que a falta de imaginação. É o mesmo no casal, é o mesmo na política. A vida é criação constante, morte e recriação"
"Há mulheres que podem ser conhecidas do exterior, as atitudes correspondendo à maneira de ser. Outras só podem ser estudadas na intimidade, no modo como se entregam, quais os centros de prazer, quais as defesas que se forjam"
"Viver duradoiramente com uma mulher, respeitar os seus desejos, confrontá-los com os meus, procurar um compromisso quando os desejos são divergentes, aceitar que ela decida, como eu, sobre os pequenos e grandes problemas, tudo isso hoje me é difícil. Tornei-me demasiado independente. Para continuar a fazer uma vida independente, mesmo casado, então não vale a pena. Prefiro a independência duma vida e a dependência duma noite, de vez em quando. A menos que apareça a mulher excecional, aquela que só aparece uma vez numa década!"
"– Tu és o gênero de homem que as mulheres gramam. Tu passas por elas, indiferente e altivo.
– Isso é uma declaração de amor?
– Não.
– Ah bom! Senão fugia já!"
"Demasiado seguro de si, fora isso que a irritara quando se conheceram. Vencera-a com a tranquilidade de quem está habituado a vencer e já não dá importância à vitória. Ao pé dele, Ondina sentia-se uma garota intimidada, precisando de se salientar para chamar a atenção sobre si. O desafio contra ele tornara-se impossível, o duelo não tinha sentido: Sem Medo não se prestava a ele, não por receio, mas por desinteresse pela conquista. E, no entanto, Ondina pressentia que Sem Medo a desejava e que sentia mesmo ternura por ela"
"Caim não matou Abel por causa duma mulher? Tentou recordar a passagem da Bíblia. É possível que na Bíblia isso não venha expresso. Mas é evidente que uma mulher esteve na origem do crime"
"Fizeram amor uma, duas vezes, ele sempre desajeitadamente. O Comissário convencia-se que ela não tinha prazer e perdia-se em divagações, auscultando as reações dela, sem se entregar realmente, e sem gozar. Ela sentia-se espiada e deixava de gozar: o orgasmo era um resultado mecânico dum ato maquinal. Mentiam-se depois um ao outro, dizendo terem tido um vivo prazer. Cada um sabendo que o outro mentia. Ondina não ousava falar desse problema, pois o noivo ficaria chocado: ele não permitia que se formasse a verdadeira intimidade dos amantes que podem falar naturalmente, sem preconceitos. Eram noivos, não amantes"
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