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Mayombe, de Pepetela

Pepetela
Foto: Divulgação | Arte: Mirdad

O romance "Mayombe" do escritor angolano Pepetela tem um protagonista sensacional: o comandante Sem Medo. Primeiro, é um daqueles nomes perfeitos que alguém eterniza – Pepetela gastou essa ficha [como eu queria ter um personagem chamado Sem Medo!]. Segundo, que é um grande líder, firme, corajoso, companheiro e irônico, mordaz em críticas ao partido que segue, expondo o que interessa: a coerência. Sem Medo diz "Eu não posso manipular os homens, respeito-os demasiado como indivíduos. Por isso, não posso pertencer a um aparelho". 

Fascinei-me por Mayombe, é um dos livros que quero adaptar ao cinema, pois renderia um filmaço. Trata de um grupo de guerrilheiros do MPLA em prol da independência de Angola, mas também apresenta um sedutor triângulo amoroso. E muitos diálogos certeiros, como na "cena" em que Sem Medo questiona as intenções políticas do seu grupo com o segundo em comando, o Comissário. O comandante arrebenta: "Não acredito numa série de coisas que se dizem ou se impõem em nome do marxismo. Sou pois um herético, um anarquista, um sem-Partido, um renegado, um intelectual pequeno-burguês... Uma coisa, por exemplo, que me põe doente é a facilidade com que vocês aplicam um rótulo a uma pessoa, só porque não tem exatamente a mesma opinião sobre um ou outro problema". Abaixo, as pílulas de Mayombe:


Parte I
Leia aqui
"Trago em mim o inconciliável e é este o meu motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento o talvez"

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Parte II
Leia aqui
"O amor é uma dialética cerrada de aproximação-repúdio, de ternura e imposição. Senão cai-se na rotina, na mornez das relações e, portanto, na mediocridade"

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Parte III
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"Sou é contra o princípio de se dizer que um Partido dominado pelos intelectuais é dominado pelo proletariado. Porque não é verdade. É essa a primeira mentira, depois vêm as outras"

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Parte IV
Leia aqui
"Para os homens que apreciam a vida humana, que lutam porque apreciam a vida humana, camarada, é muito difícil ser-se voluntário para executar à punhalada um homem, mesmo que seja um traidor miserável"

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