João Filho (foto daqui)
"(...) o desejo é o embotamento, a ira'ardente, este é o fogo pálido, sim, parole, transparência que enreda, vivido que farela, risco na prata dessa valsa, dorida, sem par, e nossos passos atrofiados, nossas duras extremidades, desejo e me pedes desassombro, desejo é essa massa que minhas manhãs de luzes transpassadas, em que solares são os ossos (...) e o patético, a parte podre, a tarde'trevando, nós nuvens, a camomila fumegante depois do coito e quando certa repulsa é repouso, aconchego, este o desejo, Lúcio meu, milenar, sim, milenar e másculo (...) sem febre, dedos molhados na tez queimando, meus quadris ejaculados, seu timbre ao vocalizar passagens proustianas (...) quando me cobres e me dobro abrindo-me, essa, a língua que me desnuda, desdenho o que o corpo congrega, desdenho tato, aromas, sabores, amores são malignos, desdenho o que o espaço me oferta, palavra não pode, perdoa caríssimo, o que procuro? caríssimo, me enlace, mesmo sendo saudade; o que não acho? minha manhã nocivas neste peito lasso (...)"
"dor de esfacelar bicho menor. uma manhã macerada em suas vértebras. o corpo da casa vibra, dá a dica de sua atonalidade, mas é todo tônico, sem pausas. toda música requer silêncio. esta não, nos intervalos dupla dói. as paredes internas da casa estalam, sofás-cama, móveis sustentadores estão todos desmantelados; pelo uso? algum deus? nem nem, foi baque de dor vibrando suas vértebras, inconsoláveis. o quarto onde ela repousa repensa suas farpas. a dor pressiona até a náusea. o sol lambe minhas costelas, imprestável não gera nada. nem amorena a dor. bronzeia esta segunda-feira anojentada pelos bagarotes que têm de ser caçados à tapa."
"o Caboclo Chupa-Peito entra na roda intentando taras. é desses iniciados a olho, treitando. reparando sempre nas caboclas de mamas fartas. ciscando pelas beiras, vai se achegando quando as Giras entram em transe. no meio do terreiro Chupa-Peito faz jus ao vulgo. até que um Ogã disfarçado de cabocla trocadilha seu nome: Pica-Chupa até madrugadinha."
"(...) Fissurinha prenha queimava pedra. na beira do Sarrafo onde uns troncos davam para deitar cadela, luarando, no cômodo, enrabei Fissurinha. (...) berrou implorando retiro. neguei, só depois do descarrego. Fissurinha se escondia numa quebra bisonha. para se chegar malaco tinha que marcar léguas & manjar buracos. no dia do estrago fui munido. cheguei pelo noturno, botei um beque. a renca estava fora. ela torrou uma pedra, fiquei fazendo reparo nos seus afazeres. pesar de pó-pedra-pica, Fissurinha dava rock, fêmea-primor. porém, buça translúcida eu não perdoava. na hora que a quebra dormitou Fissurinha estava'aberta na sala chapada de pedra, semi-nua. (...) lábia sobre lábia, cortes-em-closes. meti a mão, ela-vibrou! risinho fuleiro de piva pronta."
"d'algumas desculpas: catei um corpo-catarse na baixada. tesudo, todo torneado. sarrando, constatei a tora: tirânica! nas desoras adentramos a casa. sutilíssima pus sonífero na taça. não foi muito, ele apagou. Cabrunco em cena: catou o corpo, levou pro porão, pelou, pôs no leito-elator, com ducha dum dos membros do leito, higienizou e bloqueou a boca. pelada, descalça, enluvada (...) me acheguei. brinquei com as bolas, fui desadormecendo a tirânica, bulinando... quando de todo enervado'assustado, Cabrunco fez funcionar os membros-mecânicos-milimétricos do leito. o mucamo-amante acionou o esfola-esfíncteres, que'era elíptico, de um dos braços. devidamente untado foi enfiado lerdamente no cu do corpo-catarse. ao entrar milimétrico, o caralho mais inchou, fez-se farto. Cabrunco já sabido, enterrou só meio esfola-esfíncteres. babei bem a tora. ensebei. quase-a-gozo, peguei o bisturi (...)"
"Zé-Buceta não é a bosta naufragada, é antes a rixa'raivosa que não larga. o careta sugado, o andrajo'azedo, o homo-buffa empestando com sua murrinha, seu fudum, circulando no centro da cidade, encenando sua carniça. esquizo'cueca em rodopio danoso pelo centro da cidade. profeta, general, ator, otoridade, professor de filosofia. desconsiderado desdita, meganha não perdoava, trucidava o tio. em rosa não lhe fornicaram porque feito um plástico'posmo redecorava a cela com suas cagadas. aí eram os celados que trucidavam o tio."
Presentes no romance "Encarniçado" (Editora Baleia, 2004), de João Filho, páginas 146, 15-16, 23, 41, 53-54 e 132-133, respectivamente.
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