Cidinha da Silva - Foto daqui
O fundo do fim
Cidinha da Silva
A dor maior do fim daquele amor
Era a ferida desnuda
No fundo do abismo sem fundo
Depois da esperança partida
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Química sentimental
Cidinha da Silva
Há dias em que ser o som do alaúde no deserto
Não tem lirismo algum
Dias em que caminhar na areia
Sob o sol e o vento
Transpirando
Fazendo fotossíntese
É a fórmula para decantar o amor
E protegê-lo
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Chuva
Cidinha da Silva
Ontem chovi
Era chumbo
A nuvem que me matava
Chovi mágoa
Contrita
Ebó despachado na praça
Na encruza do tempo perdido
Chovi no pântano dos afogados
Mangue de dor
Sem flor que nasça
Chovi o amor guardado
Tudo é morte
Tudo é renovação
Só por chover
Amor
Vivo
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À mulher consagrada a Iemanjá
Cidinha da Silva
Amada
Não procure poemas teus
Nesse cascalho de bobagens minhas
Enquanto te amei
Confesso
Não escrevi poemas a ti
Ocupada demais estive
Em ser feliz
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Definitiva
Cidinha da Silva
Não me encantam as que se acham; me derrubam as que são.
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"Aprendida a lição da faca
A delicadeza não veio abrir a manhã
(...)
Dá-me o silêncio de tuas pedras
Serena o grito, meu Pai
Eu, guardador de águas
Inda não aprendi a ser rio
(...)
Abrasa de entendimento o peito
Imanta as grandezas do ínfimo
Traz de volta as asas"
"(...) reconhecia nos olhos dela
O mesmo que de melancolia e ternura
De placidez na liberdade fugidia
(...)
Olhos de pássaro
Ela mantinha
Quando me ofertava
Por entre as pálpebras cerradas
A liberdade
No fio sorridente
Da navalha"
"Quero Michael no ouvido
Não o mutante
O Jackson Five
Menino que ninava os grandes
Aliviava-lhes o peso do mundo
Mesmo que o mundo lhe doesse tanto"
Presentes no livro de poemas Canções de amor e dengo (Edições Me Parió Revolução, 2016), páginas 53, 45, 61, 91 e 33, respectivamente, além dos trechos dos poemas Náufrago (p. 59-60), A mulher que domava camelos (p. 83-84) e Ranhuras (p. 55), presentes na mesma obra.
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