Tarcísio Buenas
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"– Tá me paquerando?
– Não, por quê?
– Você piscou pra mim.
– É sono."
"(...) Deve ser mesmo um incômodo pros babacas ser rico, rocker e poeta talentoso com muita grana pra gastar. Nunca entendi por que o poeta tem que ser o pobre fodido de bolso. O que vaga por aí trabalhando em troca de comida e bebida. De um lugar pra dormir (essas coisas que falam sobre o poeta marginal). Um poeta marginal pode morar na cobertura do Leblon, frequentar grandes festas nos lugares mais quentes e não ser babaca como muitos artistas (...) Só discurso. O primeiro disco do Barão é uma obra-prima. Isto se deve em boa parte ao talentoso poeta Caju e seu canto escrachado. Mais um 'filhinho de papai' a deixar sua marca indelével em nossas vidas (...)"
"(...) Estes caras com quem você anda vivem no salão de beleza fazendo as unhas e bebendo Martini com cereja pra enfeitar o copo. Eu corto minhas unhas com canivete. E bebo do Jack Daniels do Marião (...)"
"– Eu não sei se te amo.
– Mas você me disse na semana passada que me amava.
– Eu mudo."
"(...) Não tenho medo do escuro, nem da morte. Acho insuportável esse papo de que qualidade de vida é dormir cedo e acordar cedo. Não beber, nem fumar. Praticar esportes e coisa e tal. É insuportável. (...) Já briguei em empregos hediondos e caí na estrada em busca de aventura. Você já deve ter visto momentos como esse em algum filme ou livro. Sei que sim. Este desejo não é só meu. Nunca será. (...) Cheguei recentemente de uma viagem que durou três meses. Fiz o que mais almejei nos últimos três anos (...) Quanto ao remédio que eu tava tomando pra depressão, deve ter sido esmagado pela roda de algum caminhão e virado pó, se misturando com o pó da estrada."
"(...) Bebi uma cerva no boteco do Pedrinho que ficava em frente lá de casa com o velho Edgar sentado na porta, sempre me recebendo com um enorme sorriso e apertando a minha mão com maior prazer. Ele bebia todos os dias. Toda vez que eu voltava do colégio ele tava lá sentado, sempre no mesmo lugar, com a velha camisa branca de botão com bolso no lado esquerdo para guardar o cigarro. Minha mãe bebia com ele de noite. Os dois cuspiam grosso! (...)"
"Desde meus tempos de escola, eu vivia solitariamente no meu canto. Não gostava de ficar no meio dos demais [mesmo quando ela me convidava para entrar, eu não entrava]. Um dia, ela se aproximou usando uma saia curta; se abaixou mostrando seus pelos pubianos – eram pretos – e estava saindo da calcinha. Apertou minha mão contra seu peito e me convidou para entrar. No canto escuro da parede, a imagem de Cristo olhando pacificamente para meus olhos solitariamente tristes. E nada mudou."
"(...) Olhando agora minha foto quando criança vejo um misto de candura e melancolia que parece não acabar mais. A candura deve ter escorrido pelos cantos dos meus olhos tristes; já a melancolia, é eterna (...) alguém vai ler isso aqui e comunicar à minha mãe e ela vai ler e me ligar chorando como é de costume nos fins de noite quando estamos bêbados em sintonia afinada – é quando a solidão e a melancolia se misturam (...) Na trilha sonora Cohen com suas canções dolorosas me fará melhor (...) Vou acender uma vela para Jack Kerouac daqui a pouco e pedir a Deus pro bem de sua alma. Acenderei outra pra John Fante. Os meus heróis não merecem passar pelo que eu tô passando agora. É doloroso ficar aqui sozinho no sétimo andar de um prédio quase em ruínas (...)"
Presentes no livro de crônicas, memórias, resenhas e poemas "18 de maio, quanto tens por dizer..." (Buenas Books, 2015), de Tarcísio Buenas, páginas 35, 25-26, 16, 64, 65, 49, 47 e 19, respectivamente.
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Grande abraço.