Mauro Pithon dilacera na face pesada da Orange Poem
Após lançar três EPs destacando o som progressivo e psicodélico da banda The Orange Poem, o produtor Emmanuel Mirdad apresenta a face pesada do grupo, com a voz furiosa e rasgada do cantor Mauro Pithon (Úteros em Fúria e Bestiário) e os solos velozes e nervosos do guitarrista laranja Saint. Trata-se do EP Balance (equilíbrio em inglês), e será lançado na terça, 15 de julho, seis meses depois do EP Ground, com Glauber Guimarães no vocal, o primeiro dessa série de lançamentos virtuais do Orange Poem.
O EP Balance, que foi gravado por Tadeu Mascarenhas no estúdio Casa das Máquinas e tem o encarte feito por Glauber Guimarães, traz duas composições de Emmanuel Mirdad, o hino de taverna alemã “Child’s Knife” e a metaleira “The Green Bee”, e a parceria entre Mirdad e Saint, o hard rock estradeiro “One and Three”. As músicas “rock mermo”, sem firula, com riffs e solos velozes, sempre estiveram presentes nos shows da Orange Poem, seja em covers de Deep Purple, Black Sabbath e Jimi Hendrix, ou nas autorais da face “metaleira". Enquanto as psicodélicas serviam pra introspecção em casa, o peso marcava a performance ao vivo do poema laranja. “O som viajandão é o melhor que a gente faz, mas o peso tem o seu lugar e não poderia ficar de fora desta volta com força total”, define o produtor. PS: A Orange Poem parou em 2007 e retornou em 2014.
Mauro Pithon grava a voz no
EP Balance em junho de 2014
Foto: Mirdad
Mirdad cogitou convidar algumas vozes do metal baiano, mas preferiu acertar com o visceral Mauro Pithon, que fez história cantando em inglês na Úteros em Fúria nos anos 90. “Sou fã de Maurão, digo por aí que ele é o melhor grito da Bahia, uma referência pros berros que dei por aí quando era o vocalista da Orange. Depois de ter Mosckabilly (Glauber Guimarães) e Nancyta (Nancy Viégas), tive a sorte de completar a tríade sagrada das grandes vozes do rock baiano com o a voz de motosserra estradeira implacável do brother Mauro”, explica Mirdad.
Além do peso e dos solos velozes, o EP Balance traz poesia: em “Child’s Knife”, Mauro e a moça do Google Translate recitam o poema “Les autres”, do santamarense Herculano Neto, e em “The Green Bee”, Ildegardo Rosa, o pai filósofo e poeta de Mirdad falecido em 2011, recita o melhor trecho do seu poema “A tirania das formas”.
O EP Balance estará disponível para audição e download a partir do dia 15/07 no Soundcloud da banda (www.soundcloud.com/theorangepoem) e também no Youtube aqui.
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De 2001 a 2007, a Orange Poem apresentou sua singular sonoridade baseada no psicodélico rock progressivo em inglês, com pitadas de blues, folk, groove e hard rock setentista. Formada por desconhecidos do cenário do rock baiano (e até entre si mesmos), conduzida pelo multifacetado Emmanuel Mirdad (escritor, compositor e produtor da Flica), foi uma banda guitarreira de canções autorais do seu produtor e então cantor. Marcus Zanom e Saint, guitarristas tão antagônicos de estilo, combinaram como yin-yang seus timbres em solos de puro feeling ou velocidade intensa. Na gruvada cozinha laranja, a segurança e técnica dos músicos Hosano Lima Jr. (baterista) e Artur Paranhos (baixista).
Pertencente à geração 00 do rock baiano, de bandas cantando em inglês como The Honkers e Plane of Mine, a Orange Poem gravou dois discos no estúdio Casa das Máquinas, de Tadeu Mascarenhas. “Shining Life, Confuse World”, o primeiro, chegou a ser prensado e lançado no extinto World Bar em 2005, de forma totalmente independente, sem gravadora nem selo. A banda optou por não trabalhar a divulgação dele e partiram pra gravar o seguinte, “Sleep in Snow Shape”, que foi concluído no final de 2006, poucos meses antes da banda acabar em março de 2007. Não chegou a ser lançado, e os membros se mudaram pra estados distintos.
Emmanuel Mirdad, Mauro Pithon
e Tadeu Mascarenhas finalizam
o EP Balance em junho de 2014
A NOVA FASE
Depois de sete anos cabalísticos, Mirdad retomou o som laranja com a inusitada proposta de várias vozes distintas. “Pra que ter um vocalista fixo? O original, por exemplo, comprometeu as músicas e merecia ter sido demitido”, comenta ironicamente, pois era ele mesmo o tal vocalista ruim. Devido à velocidade da contemplação moderna, que não tem mais o tempo para apreciar os álbuns com dez, doze músicas, o produtor decidiu investir no lançamento de EPs com três músicas cada, com a novidade de uma nova voz a cada lançamento.
As músicas foram gravadas entre 2005 e 2006 e estavam engavetadas desde o fim da banda. Com a volta da Orange Poem, as músicas ganharam uma nova mixagem e a presença do novo membro da banda: o tecladista Tadeu Mascarenhas, responsável pelos sintetizadores que estão temperando mais ainda a psicodelia do som laranja. Engenheiro de som das gravações e co-produtor das músicas, Tadeu sempre orbitou pela banda e topou fazer parte do grupo. “Somos amigos há 10 anos, curtimos as sequelas criativas proporcionadas pelo poema, e como a Orange é uma banda de estúdio, não interfere em sua agenda concorrida”, informa Mirdad.
EP Ground com Glauber Guimarães (janeiro/2014)
ouça aqui
EP Unquiet com Rodrigo Pinheiro (abril/2014)
ouça aqui
EP Wide com Nancy Viégas (junho/2014)
ouça aqui
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AS CANÇÕES
Child’s Knife
(Emmanuel Mirdad)
Batizada de “hino de taverna alemã”, traz uma sonoridade festiva com nuances harmônicos, marcada pelo riff adesivo criado por Zanom e pelos velozes solos de Saint. Em contrapartida à celebração da melodia e do ritmo, o poema traz a profundidade de um duelo espiritual: a criança, armada com uma faca, está dividida entre a sedução de continuar viva (cortar o elo) e o desejo do reencontro pós-morte (cortar sua garganta). No final experimental, a música traz o poema “Les autres”, do santamarense Herculano Neto, recitada na fusão de vozes humana e robótica (o vocalista Mauro Pithon e a voz do Google Translate).
The Green Bee
(Emmanuel Mirdad)
A marca desta composição, considerada a mais elaborada de Emmanuel Mirdad no repertório laranja, é a sua harmonia baseada em riffs, com pegada de heavy metal, que traz o primeiro contato do Orange Poem com o jazz, de forma breve e experimental. Destaque para a velocidade e força dos solos de Saint e a voz brutal e furiosa de Mauro Pithon. O poema fala de um ser que ousa encontrar o sentido da vida e simplesmente não dá a mínima às ameaças do mundo que insiste em aprisioná-lo. Na parte jazz, a música traz a voz do filósofo e poeta Ildegardo Rosa, gravada em 2009, recitando o melhor pedaço do seu poema “A tirania das formas” (pai de Mirdad, faleceu no final de 2011).
One and Three
(Emmanuel Mirdad / Saint)
Hard rock estradeiro, é construída em cima de um riff setentista, com o peso firme de uma cadência excitante. É a única parceria musical entre Mirdad (poema e melodia) e o guitarrista laranja Saint (riff e harmonia). Destaque para os seus solos velozes e flutuantes e a voz de motosserra de motor cabra macho de Mauro Pithon. O poema é uma desvairada retratação de um pôr-do-sol, o indivíduo e a tríade divina.
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O EP BALANCE
01. Child's Knife
(Emmanuel Mirdad)
BR-N1I-14-00011
02. The Green Bee
(Emmanuel Mirdad)
BR-N1I-14-00012
(Emmanuel Mirdad / Saint)
BR-N1I-14-00013
Saint (guitarra)
Hosano Lima Jr. (bateria)
Tadeu Mascarenhas (sintetizador e órgão)
Marcus Zanom (guitarra)
Artur Paranhos (baixo)
Mirdad (violão 12 cordas e gritos)
Convidado especial:
Ildegardo Rosa (voz na faixa 2) – in memorian
“Child's Knife” contém “Les Autres”, um poema de Herculano Neto, traduzido para o francês por Pedro Vianna
“The Green Bee” contém um fragmento do poema “A Tirania das Formas”, de Ildegardo Rosa
Gravação, mixagem e masterização: Tadeu Mascarenhas (Estúdio Casa das Máquinas)
Produção artística e executiva: Emmanuel Mirdad
Arte do EP: Glauber Guimarães
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