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Orange Poem — Primeiras resenhas em jornal e internet

Jornal A Tarde
Caderno Dez
22/09/2005

Som Laranja
A banda baiana Orange Poem lança amanhã seu primeiro CD, "Shining Life, Confuse World", apostando em rock com cara antiga
Pedro Fernandes

É como se todos estivessem numa festa que se alongou por anos e todos já tivessem feito de tudo. Nada mais choca ninguém. Logo a festa ficou chata, alguns voltam para casa, outros seguem numa dança que já perdeu o sentido. O fazem por puro hábito.

Entre os que voltaram para casa está a banda baiana Orange Poem. Formada por Emmanuel Mirdad [vocais e guitarra], Fábio Vilas-Bôas [guitarra], Marcus "Jesus" Vinícius [guitarra], Fabrício Mota [baixo] e Hosano Júnior [bateria], lança seu primeiro CD, "Shining Life, Confuse World", amanhã, na festa Laranja Rock [ver serviço]

A analogia acima pode parecer estranha, mas será explicada. Hoje, para algo ser bom, hype, cult, [pós] moderno tem que basicamente ser diferente. Pretensamente originais, algumas bandas novas tendem a optar pelo recurso da mistura de sonoridades. Misturar é o verbo que os arautos da pós-modernidade mais conjugam. Tanto que acabou perdendo a graça.

Novo e velho, regional e global, erudito e popular têm sido as misturas mais frequentes que a falta de criatividade de algumas mentes julgam ser a única saída para a arte no começo deste século. Mas há quem não ligue para as tendências, como os caras da Orange Poem. Mistura até que tem, mas nada de vestir o antigo com roupa nova. O som da banda é velho. Só que no bom sentido. Uma espécie de volta para casa.

Início

Em 2000, Emmanuel começou a procurar entre amigos e conhecidos pessoas para formar a banda. "Fábio foi o primeiro. Mostrei para ele o som, se identificou e entrou no projeto." Em março do ano seguinte, a banda estava formada. Gravaram então num espaço de três anos dois CDs demos e um DVD, fizeram shows por Salvador e em novembro de 2004 entraram em estúdio para gravar "Shining Life, Confuse World", sem vínculo com gravadora ou selo. Na época, o baixista era Artur Paranhos, que saiu da banda há pouco mais de um mês.

A produção foi toda bancada pelo vocalista, que também é o produtor executivo do projeto. "As dificuldades enfrentadas foram mais relacionadas à grana do que a problemas técnicos. A gravação foi tranquila, pois Tadeu Mascarenhas [do estúdio Casa das Máquinas] é muito competente". Das 12 músicas do álbum [compostas em inglês], apenas duas foram escritas em parceria. Todas as outras são composições de Emmanuel.

O CD vem acompanhado de outras pretensões. A banda quer viajar para a Europa a partir da metade do ano que vem e tentar uma carreira por lá. Mas contatos para seguir primeiro para São Paulo já apareceram. "Se rolar uma boa proposta, a gente vai."

Distorcido, acústico e doce
[comentário]

"Shining Life, Confuse World" é, como dá para perceber pela formação da banda, guitarreiro até a alma. Acústico, distorcido, ácido, às vezes doce. As referências são escancaradas e, guardando proporções, lembrar do Pink Floyd logo de cara não é tão difícil. E é assim que começa o disco, com "Last Fly". Psicodelia pura, abuso de distorções e delays e a voz grave de Emmanuel quase recitando a letra num clima meio lisérgico.

Há espaço também para referências metaleiras, com "The Green Bee" e "New Help", com mais peso nas guitarras e na bateria. Os vocais ficam à vontade para gritar o quanto a música pedir. Em "Wideness", entra um blues meio deslocado, cantado com sotaque da Transilvânia. Mas é no rock progressivo que o álbum melhor se realiza. Então quando "Rain" chega, a certeza de que a alma da banda está em um som mais viajante se confirma.

Com dois pés no passado e assumindo isso sem esquizofrenias temporais, Orange Poem acaba sendo original por não ceder à tentação de trazer junto com as referências canônicas disfarces modernosos para tornar o som da banda mais palatável, mais dentro de uma tendência que já era. O engraçado é que se você fechar os olhos o som é mesmo laranja.


A primeira resenha na internet
feita por Valdir Antonelli do site
DropMusic em junho de 2006

The Orange Poem
Valdir Antonelli

Formado em 2001, o quarteto lançou duas demos e um DVD-Demo antes de 'arriscar' um álbum cheio e mais bem produzido. Cantam em inglês, visando o mercado externo, mais precisamente o Reino Unido, e planejam embarcar para a Europa em breve, algo que muitas bandas querem, mas poucas realmente conseguem. Finalmente, em novembro de 2004, começam a trabalhar no primeiro disco, produção que só acabou em fevereiro de 2005 e lançam Shining Life, Confuse World em setembro do mesmo ano.

Com 12 canções, Shining Life... só não é uma viagem psicodélica total devido aos vocais guturais de Emmanuel Mirdad – lembrando, quando canta normalmente, vagamente o vocalista Fish ex-Marillion. Vocais que dão um ar teatral que se unem perfeitamente aos arranjos criados pelo grupo. As semelhanças com Pink Floyd, em Last Fly, são bem fortes, mas existem ecos de Jimmy Hendrix, jazz (finalzinho de The Green Bee), rock clássico, blues (principalmente as guitarras em Diet of Dust) e até mesmo do brit pop, este em doses bem pequenas. Em outros momentos chega a soar como uma banda de metal (lembrando Metallica em Wideness).

Em um mercado musical recheado de clones do brit pop, o som feito pelos baianos do Orange Poem causa uma certa estranheza nos primeiros momentos. Ao flertarem com o rock psicodélico, e até mesmo progressivo, dos fim dos anos 60, a banda prova que é possível fazer um trabalho um pouco mais experimental sem soar chato e cansativo e apenas reafirma que a cena independente de Salvador é, hoje em dia, uma das mais criativas do rock nacional.

Álbum: The Orange Poem – Shining Life, Confuse World
Selo: Independente
Ano: 2005

O The Orange Poem é:

Emmanuel Mirdad – Voz
Fábio Vilas-Bôas – Guitarra
Marcus ´Jesus´ Vinícius (Zanomia) – Guitarra
Hosano Júnior – Bateria

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