Blues estradeiro, com passagens psicodélicas e teatrais. Os versos são locados em um funeral, e o personagem da canção ouve a voz que guia a narrativa, aconselhando-o. A composição foi gravada pela banda The Orange Poem em 2006, e a voz regravada pelo cantor e compositor Glauber Guimarães em dezembro de 2013, para ser lançada virtualmente no EP Ground em janeiro de 2014 (e está presente no álbum Orange Poem, disponibilizado nas plataformas digitais em 2021).
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Farewell Song
(Emmanuel Mirdad)
BR-N1I-14-00004
Look beside you
Everybody is crying, there’s so much pain
Everybody is saying goodbye
Parting away from their parents,
friends, dears and children
The land or the fire
They want the memories of flesh
And if you cry and leave the routine
That’s because you don’t respect death’s will
In wanting to live the seconds like years
Once that everything that pulses is treasure
And the rests of the deads are full of goodbye
Your father wants you risen and wise
Your mother asks you love for those who rest
Your friends smile in happy pictures
Of the memories that don’t go but become
A new chance in this life
ORIGEM
RECICLAGEM
Em março de 2001, antes do 1º ensaio (31/03) da banda The Orange Poem (data em que considero a estreia do grupo), estava elaborando canções para o 2º repertório (apressado, como sempre – a banda nem tinha começado e eu já queria montar mais repertórios). Aproveitando a nostalgia recorrente, na terça 6 reciclei um esquecido riff e melodia da canção "Hou" (criada entre setembro e outubro de 1998, dedicada à Thania Patrícia) no poema recém-traduzido "Farewell Song". O guitarrista Zanom, ao conhecer a "nova" canção, disse que ela se parecia com o início de "The Unforgiven" do Metallica. Era o dedilhado da passagem do acorde A9 pra A. Tinha razão.
Dias depois, ao fazer as pazes com a ex-namorada da época, resolvi me livrar do rancor que tinha produzido "Poison Rose". Para não perder a melodia interessante da canção-ataque, dois coelhos com uma canetada só: reciclei a melodia em "Farewell Song" e me livrei da breve coincidência com o clássico do Metallica. Só que na quinta 15, compus a bela "The Unquietness" que, para ficar completa, levou a melhor parte da extinta "Poison Rose" para ser concluída (o momento redenção das notas Gm e Bb, parte mais alta da progressão). Resultado: "Farewell Song" ficou sem melodia. Uma semana depois, sem criatividade para compor uma nova melodia, retornei à original. Durou dois meses. Em uma das muitas faxinas do 2º repertório TOP, arquivei "Farewell Song" no dia 22 de maio de 2001.
RECOMEÇO
Pra mais de quatro anos e meio depois, na segunda, 12 de dezembro de 2005, ressuscitei "Farewell Song". Nostálgico, toquei várias canções ao violão Alhambra de minha mãe (onde compus quase todas), até chegar na arquivada. Desta vez a criatividade gruvou e eu compus novas partes da melodia e pontes, aproveitando um pouco da antiga melodia, que ganhou uma roupagem blues. Fiquei tão satisfeito que a incorporei de novo ao 2º repertório TOP, já na sua milionésima versão. Veio 2006 e finalmente a grana e tempo pra registrá-lo. Batizado de "Sleep in Snow Shape", trazia "Farewell Song", que finalmente foi ensaiada com a banda laranja cinco vezes entre março e abril.
GRAVAÇÃO
Na quinta 27 de abril, Hosano Lima Jr. gravou a bateria no estúdio "Casa das Máquinas", de Tadeu Mascarenhas. Era a que ele tinha mais dificuldade, pois foi a que menos ouviu e ensaiou. O CD "Sleep in Snow Shape" teve uma pós-produção 'nas coxas', e muito do seu brilho foi compreendido durante as sessões de gravação – por isso que se estendeu até outubro de 2006. Artur Paranhos gravou o baixo com muita dificuldade também, devido ao escasso tempo de pré e quase nenhum ensaio. Eu tinha dúvidas se deveria manter a canção no repertório.
Quando fui gravar o violão 12 cordas, tomei um susto: Hosano acelerou o beat e ela foi registrada muito mais rápida do que vínhamos ensaiando. Como produtor do disco, como é que eu não tinha percebido isso? Na verdade, as sessões de gravação é que estavam definindo os arranjos das músicas. E essa coincidência do destino favoreceu "Farewell Song", porque o tal dedilhado a la Metallica foi implodido por essa versão acelerada que acabou se firmando como a melhor opção para ela (a sua ancestral "Canção Adeus" é bem lenta).
Zanom e Fábio Vilas-Boas mandaram ver nos arranjos das guitarras, principalmente o laranja de libra que criou um simples mais eficiente riff bluesy pra parte I da canção (na sessão em que Fábio gravou o wah-wah psicodélico da parte teatral e ficou preocupado porque do jeito que gravamos, era humanamente impossível reproduzir ao vivo, só por sampler; simplifiquei assim, 'humildemente': "relaxe, ao vivo é outra história ... rapaz, nós somos Pink Floyd no estúdio e Led Zepellin ao vivo").
VOZES FANTASMAS
"Farewell Song" tinha dois buracos. O mais grave era na ponte entre o introspectivo ("In wanting to live the seconds like years...") e a redenção ("Your father wants you risen and wise.."). Solos? Não, já tinha vetado o solo de Fábio no buraco do final. A solução surgiu na terça, 29 de agosto. Mas antes, no início deste mês, quando brevemente pensei e pré-formatei o projeto "Laranja Poema" (transformar o TOP em português aproveitando a gravação de "Sleep in Snow Shape" com letras na língua materna), considerei a letra de "Canção Adeus" muito simplória, substituindo-a pelo ótimo poema "Passadinos e Etéreos" (constante no livro "Nostalgia da Lama", a ser lançado em 2014).
Antes de definir se iríamos fazer isso mesmo (não fizemos), antecipei os processos (como sempre) e gravei meu saudoso pai Ildegardo Rosa (1931-2011) recitando a estrofe final do poema no também saudoso gravadorzinho Aiwa de fita K7 (busquei o mesmo efeito que foi eternizado na canção TOP "Madness") – a ironia foi que o Mestre Dedé estava com a garganta inflamada, ou seja, com a carne deteriorada (a ver com o poema). Na última parte da melodia, iria encaixar o recital do meu mestre.
Quebrando a cabeça como solucionar o buraco, sugeri na terça 29: "por que não encaixar a voz de meu pai na ponte, só que no reverso pra ninguém entender?". Maluquice. Ou seja, perfeito! Pra alimentar mais ainda a sequela, raciocinando com o sentido do poema ("Your father wants... your mother asks you... your friends smile...), gravei a voz da minha mãe Martha Anísia e do meu melhor amigo na época Rodrigo Minêu. Fechando as "vozes fantasmas", distorci a coerência da proposta a favor do amor: gravei também a voz da namorada da época, Vanessa Caldeira. Em casa, na quarta 30, editei as vozes no Sound Forge, as quatro em reverso + delay, que deixou os trechos mais viajandões ainda, lembrando uma oração árabe. Buraco psicodelicamente tapado. E o fim de "Farewell Song" foi solucionado com a participação especial de Tadeu Mascarenhas gravando meu arranjo do violão no sintetizador, na última gravação do álbum engavetado "Sleep in Snow Shape".
VERSÃO FINAL
The Orange Poem voltou em 2014 com o EP Ground e a proposta de novos vocalistas. O cantor e compositor baiano Glauber Guimarães escolheu três músicas para gravar sua voz. "Farewell Song" foi gravada em dezembro de 2013, mostrando toda a versatilidade do artista, grave, alto, teatral e um vocal dobrado a la Roy Orbinson no final que me deixou profundamente emocionado. Depois de tanto caminhar, o blues estradeiro despede-se definitivamente da gaveta pra ser eternizado na sua versão final.
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(Emmanuel Mirdad)
BR-N1I-14-00004
Look beside you
Everybody is crying, there’s so much pain
Everybody is saying goodbye
Parting away from their parents,
friends, dears and children
The land or the fire
They want the memories of flesh
And if you cry and leave the routine
That’s because you don’t respect death’s will
In wanting to live the seconds like years
Once that everything that pulses is treasure
And the rests of the deads are full of goodbye
Your father wants you risen and wise
Your mother asks you love for those who rest
Your friends smile in happy pictures
Of the memories that don’t go but become
A new chance in this life
Faixa 03 - EP Ground (2014) | Faixa 13 - Orange Poem (2021) | Composta e produzida por Emmanuel Mirdad | Glauber Guimarães - voz | Mirdad - violão 12 cordas | Zanom - guitarra | Fábio Vilas-Boas - guitarra | Hosano Lima Jr. - bateria | Artur Paranhos - baixo | Participação especial: Tadeu Mascarenhas - sintetizador | Gravado, mixado e masterizado por Tadeu Mascarenhas no Casa das Máquinas, Salvador-BA | Encarte EP Ground: Rafael Rodrigues (foto) e Glauber Guimarães (design) | Capa 2021: Meriç Dağlı (foto) e Emmanuel Mirdad (design)
ORIGEM
Entre os dias 04 e 07 de dezembro de 1999, compus "Canção Adeus", música que foi gravada no ano 2000 no primeiro CD que produzi, "O Primeiro Equilíbrio", do projeto Pássaros de Libra, uma das poucas faixas que não me envergonha nessa estreia em fonograma. Os versos: "Olhe para os lados, todos estão chorando, todos estão se despedindo, todos estão dizendo adeus aos seus pais, amigos, queridos. A terra ou o fogo querem a lembrança do corpo. E se você chora e abandona a rotina é porque não respeita a vontade dos mortos em querer que viva os segundos como anos já que tudo que pulsa é tesouro e com o descanso os mortos já estão cheios de adeus. Seu pai lhe quer erguido e sábio, sua mãe lhe pede amor aos que ficaram. Seus amigos sorriem nos retratos felizes das lembranças que não passam e sim se transformam numa nova chance nesta vida". Como podem notar, exceto por um mínimo detalhe, são os versos que foram traduzidos em "Farewell Song".
Cifra original digitalizada da composição "Canção do Adeus", cuja letra originou "Farewell Song", gravada pelo Pássaros de Libra no álbum "O Primeiro Equilíbrio" (2000), com arranjos de André Magalhães (midiman do álbum) em vermelho, abaixo disponível para audição:
RECICLAGEM
Em março de 2001, antes do 1º ensaio (31/03) da banda The Orange Poem (data em que considero a estreia do grupo), estava elaborando canções para o 2º repertório (apressado, como sempre – a banda nem tinha começado e eu já queria montar mais repertórios). Aproveitando a nostalgia recorrente, na terça 6 reciclei um esquecido riff e melodia da canção "Hou" (criada entre setembro e outubro de 1998, dedicada à Thania Patrícia) no poema recém-traduzido "Farewell Song". O guitarrista Zanom, ao conhecer a "nova" canção, disse que ela se parecia com o início de "The Unforgiven" do Metallica. Era o dedilhado da passagem do acorde A9 pra A. Tinha razão.
Dias depois, ao fazer as pazes com a ex-namorada da época, resolvi me livrar do rancor que tinha produzido "Poison Rose". Para não perder a melodia interessante da canção-ataque, dois coelhos com uma canetada só: reciclei a melodia em "Farewell Song" e me livrei da breve coincidência com o clássico do Metallica. Só que na quinta 15, compus a bela "The Unquietness" que, para ficar completa, levou a melhor parte da extinta "Poison Rose" para ser concluída (o momento redenção das notas Gm e Bb, parte mais alta da progressão). Resultado: "Farewell Song" ficou sem melodia. Uma semana depois, sem criatividade para compor uma nova melodia, retornei à original. Durou dois meses. Em uma das muitas faxinas do 2º repertório TOP, arquivei "Farewell Song" no dia 22 de maio de 2001.
RECOMEÇO
Pra mais de quatro anos e meio depois, na segunda, 12 de dezembro de 2005, ressuscitei "Farewell Song". Nostálgico, toquei várias canções ao violão Alhambra de minha mãe (onde compus quase todas), até chegar na arquivada. Desta vez a criatividade gruvou e eu compus novas partes da melodia e pontes, aproveitando um pouco da antiga melodia, que ganhou uma roupagem blues. Fiquei tão satisfeito que a incorporei de novo ao 2º repertório TOP, já na sua milionésima versão. Veio 2006 e finalmente a grana e tempo pra registrá-lo. Batizado de "Sleep in Snow Shape", trazia "Farewell Song", que finalmente foi ensaiada com a banda laranja cinco vezes entre março e abril.
Hosano Lima Jr. grava Farewell Song em 2006.
GRAVAÇÃO
Na quinta 27 de abril, Hosano Lima Jr. gravou a bateria no estúdio "Casa das Máquinas", de Tadeu Mascarenhas. Era a que ele tinha mais dificuldade, pois foi a que menos ouviu e ensaiou. O CD "Sleep in Snow Shape" teve uma pós-produção 'nas coxas', e muito do seu brilho foi compreendido durante as sessões de gravação – por isso que se estendeu até outubro de 2006. Artur Paranhos gravou o baixo com muita dificuldade também, devido ao escasso tempo de pré e quase nenhum ensaio. Eu tinha dúvidas se deveria manter a canção no repertório.
Quando fui gravar o violão 12 cordas, tomei um susto: Hosano acelerou o beat e ela foi registrada muito mais rápida do que vínhamos ensaiando. Como produtor do disco, como é que eu não tinha percebido isso? Na verdade, as sessões de gravação é que estavam definindo os arranjos das músicas. E essa coincidência do destino favoreceu "Farewell Song", porque o tal dedilhado a la Metallica foi implodido por essa versão acelerada que acabou se firmando como a melhor opção para ela (a sua ancestral "Canção Adeus" é bem lenta).
Zanom e Mirdad gravam Farewell Song em 2006.
Zanom e Fábio Vilas-Boas mandaram ver nos arranjos das guitarras, principalmente o laranja de libra que criou um simples mais eficiente riff bluesy pra parte I da canção (na sessão em que Fábio gravou o wah-wah psicodélico da parte teatral e ficou preocupado porque do jeito que gravamos, era humanamente impossível reproduzir ao vivo, só por sampler; simplifiquei assim, 'humildemente': "relaxe, ao vivo é outra história ... rapaz, nós somos Pink Floyd no estúdio e Led Zepellin ao vivo").
VOZES FANTASMAS
"Farewell Song" tinha dois buracos. O mais grave era na ponte entre o introspectivo ("In wanting to live the seconds like years...") e a redenção ("Your father wants you risen and wise.."). Solos? Não, já tinha vetado o solo de Fábio no buraco do final. A solução surgiu na terça, 29 de agosto. Mas antes, no início deste mês, quando brevemente pensei e pré-formatei o projeto "Laranja Poema" (transformar o TOP em português aproveitando a gravação de "Sleep in Snow Shape" com letras na língua materna), considerei a letra de "Canção Adeus" muito simplória, substituindo-a pelo ótimo poema "Passadinos e Etéreos" (constante no livro "Nostalgia da Lama", a ser lançado em 2014).
Antes de definir se iríamos fazer isso mesmo (não fizemos), antecipei os processos (como sempre) e gravei meu saudoso pai Ildegardo Rosa (1931-2011) recitando a estrofe final do poema no também saudoso gravadorzinho Aiwa de fita K7 (busquei o mesmo efeito que foi eternizado na canção TOP "Madness") – a ironia foi que o Mestre Dedé estava com a garganta inflamada, ou seja, com a carne deteriorada (a ver com o poema). Na última parte da melodia, iria encaixar o recital do meu mestre.
Mirdad, Glauber Guimarães e Tadeu Mascarenhas na 3ª sessão do EP Ground em 23/12/2013 - Foto: Nancy Viégas.
VERSÃO FINAL
The Orange Poem voltou em 2014 com o EP Ground e a proposta de novos vocalistas. O cantor e compositor baiano Glauber Guimarães escolheu três músicas para gravar sua voz. "Farewell Song" foi gravada em dezembro de 2013, mostrando toda a versatilidade do artista, grave, alto, teatral e um vocal dobrado a la Roy Orbinson no final que me deixou profundamente emocionado. Depois de tanto caminhar, o blues estradeiro despede-se definitivamente da gaveta pra ser eternizado na sua versão final.
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