Pular para o conteúdo principal

Vamos ouvir: Deriva, de Kristoff Silva

Deriva (2013) - Kristoff Silva

Para ouvir, clique no player laranja abaixo, à esquerda do nome do álbum.



Não consegue visualizar o player? Ouça aqui

Baixe aqui

Release disponível no facebook do artista:

"
Deriva por Pablo Castro*

Ouvindo o impressionante e improvável novo álbum de Kristoff Silva , craque da raça musical e cancional brasileira. Em contraposição à placidez de Em Pé no Porto, Deriva é mais incisivo, nervoso em alguns momentos, incrivelmente ousado nos arranjos, instrumentação e até mesmo na interpretação. A eletrônica é mais áspera, seca, às vezes distorcida. A sua banda ainda está lá, ainda que mais rarefeita, mas o disco carrega a digital inconfundível do autor até suas últimas consequências. Os caminhos sinuosos se insinuam até o limiar da canção , ou pelo menos da idéia predominante que fazemos dela, num sair e voltar que se alinhavam, em última instância, na voz do cantor. Surpreendente que ele desenterre uma pérola do disco Dois do Legião Urbana, Acrilic on Canvas, justamente uma daquelas canções pouco metrificadas e de forma heterodoxa, mas íntegra pela intenção do texto-letra-carta-desabafo do saudoso Russo. O disco todo é uma prova das infinitas possibilidades ainda por desvelarem-se e do estado de transe que a canção expandida pode suscitar. À Deriva dos pensamentos , quadraturas, formas inconscientes que se realizam na criação de um compositor que leva ao paroxismo o conceito de letra ( Luiz Tatit, ,Mauro Aguiar, Bernardo Maranhão e Makely Ka) e música.

Recomendadíssimo aos arautos do fim-da-canção, sobretudo àqueles que pensam não haver luz no fim do túnel para esse nosso campo tão censurado hoje em dia.

*Pablo Castro é compositor e sociólogo, posui um CD, Anterior,
e em 2003 lançou, com Kristoff Silva e Makely Ka o CD “A Outra Cidade”
"

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Seleta: R.E.M.

Foto: Chris Bilheimer A “ Seleta: R.E.M. ” destaca as 110 músicas que mais gosto da banda norte-americana presentes em 15 álbuns da sua discografia (os prediletos são “ Out of Time ”, “ Reveal ”, “ Automatic for the People ”, “ Up ” e “ Monster ”). Ouça no Spotify aqui Ouça no YouTube aqui Os 15 álbuns participantes desta Seleta 01) Losing My Religion [Out of Time, 1991] 02) I'll Take the Rain [Reveal, 2001] 03) Daysleeper [Up, 1998] 04) Imitation of Life [Reveal, 2001] 05) Half a World Away [Out of Time, 1991] 06) Everybody Hurts [Automatic for the People, 1992] 07) Country Feedback [Out of Time, 1991] 08) Strange Currencies [Monster, 1994] 09) All the Way to Reno (You're Gonna Be a Star) [Reveal, 2001] 10) Bittersweet Me [New Adventures in Hi-Fi, 1996] 11) Texarkana [Out of Time, 1991] 12) The One I Love [Document, 1987] 13) So. Central Rain (I'm Sorry) [Reckoning, 1984] 14) Swan Swan H [Lifes Rich Pageant, 1986] 15) Drive [Automatic for the People, 1992]...

Dez passagens de Clarice Lispector no livro Laços de família

Clarice Lispector (foto daqui ) “A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo do orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver no armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor. Então olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho. E teve horror da própria alma que, mais que seu corpo, havia engendrado aquele ser apto à vida e à felici...

Dez passagens de Jorge Amado no romance Capitães da Areia

Jorge Amado “[Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acarinhasse, alguém que com muito amor o fizesse esquecer o defeito físico e os muitos anos (talvez tivessem sido apenas meses ou semanas, mas para ele seriam sempre longos anos) que vivera sozinho nas ruas da cidade, hostilizado pelos homens que passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos moleques maiores. Nunca tivera família. Vivera na casa de um padeiro a quem chamava ‘meu padrinho’ e que o surrava. Fugiu logo que pôde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, u’a mão que passe sobre os seus olhos e faça com que ele possa se esquecer daquela noite na cadeia, quando os soldados bêbados o fizeram correr com sua perna coxa em volta de uma saleta. Em cada canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas suas costas desapareceram. Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como um animal perseguido por outros mais fortes. A...